sexta-feira, novembro 04, 2011

A bicicleta




Era velha, caloi vermelha parecida com uma monareta. Tinta riscada.
Mas me levava pelo mundo afora, pelas ladeiras de paralelepípedo, de vez em quando fugindo de algum cachorro, de vez em quando empurrando quando furava a câmara de ar do pneu.
Das tardes quentes que passava na casa do meu avô, sobram lembranças amareladas, com cheiro de terra seca levada pelo vento. A bicicleta encostada a convidar um passeio por Pernambuco, ou pelo corredor de caraibeiras da rua que dava na igreja de São Francisco, forrando o chão de amarelo, nas mesmas tardes em que o calor traz toda aquela moleza, um entorpecimento gostoso que só é afastado pelas gotas de suor que brotam no rosto.
Poucos cruzeiros no bolso e o mundo todo aos meus pés.
Uma volta no quarteirão era o bastante para trazer notícias de terras distantes, enfrentar os maiores desafios, fugir de alguns cachorros e chegar a tempo para lanchar e receber carinhos da família.
Tomo mais um gole de café na varanda de casa, respiro fundo... é manhã, o sol ainda a se levantar preguiçoso. Lembro de uma música que meu amigo escreveu sobre uma bicicleta. Acabo por passar o dia cantarolando ela, só pra ir deitar ao fim do dia cansado... bocejando, falando com meus botões: é.. acho que vou comprar uma bicicleta... isso... vou comprar... vou... Zzz  


Veja só - Castor Luiz

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