domingo, fevereiro 08, 2015

Tempos modernos



Vivo sob o jugo de ser máquina. Da engrenagem que sustenta seu semelhante, gasto os dentes a impulsionar a outra roda.
Não vivo mais, opero. Meus erros obedecem à causas e consequências matemáticas. A máquina avança sempre, nunca questiona, nunca dúvida. A máquina, antes de tudo, é comandada, é operada pelo outro que a utiliza como mero instrumento para um fim.
Descartável. Findo meu prazo de validade, sem manutenção, escuto um "percebemos que o senhor já não vem dando conta do trabalho como antes".
O coração já não tem mais força para bombear o fluído que abastece músculos e vísceras. O chassi mole escorre, mostrando as deficiências do corpo, e a casa de máquinas, no sótão, já não governa a máquina sem emoções.

domingo, fevereiro 01, 2015

Carnaval ou Da passagem do tempo


  Espero por cada fim-de-semana como se fosse o último. Os dias que me restam são aqueles, os quais não sei quando irão se findar.
Espero como um folião a esperar o sábado de Zé Pereira. Meu coração sobe e desce ladeira aos passos loucos de sua própria batida ritmada.
Acendo um cigarro. Não espero pelo fim-de-semana exatamente. Porque sem ela o fim-de-semana não tem porquê.
Às vezes sou eu, a ir ao seu encontro. Às vezes o encontro se torna alheio à passagem do tempo.
Ela, uma vez, me falara que o tempo era eterno, que éramos uma pequena vírgula na eternidade, que não éramos mais do que um breve inspirar, na eternidade.
Eu espero, cozinho, escrevo. Reinverto a ordem das coisas e reinvento as horas, para que fôssemos eternos e o tempo, um mero inspirar de um beijo. Nosso beijo.
Sinto o calor que toma o apartamento, quase sem móveis. Apago meu cigarro e espero em silêncio, à escutar o som das alfaias em meu peito. 
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