sexta-feira, janeiro 18, 2008

carta de D para C

Caro C,

Baixe a crista... quem você pensa que é? Com esse ar de quem sabe alguma coisa... Não sabe de nada. Pensando que pode ser algo de importante como em seus devaneios, sonhando alto e com expectativas de realização. Não. Não pode!

Como ousa querer ser algo de importante sem começar de baixo? Sem se tornar o santo das fustigações da via crucis do dia-a-dia? Não meu caro, de forma alguma isso seria possível... e lá vem você arrumar justificativas para sua incompetência falando sobre perdas de entes queridos, momentos de adaptação e insegurança... Ah, o mundo não dá a mínima para isso, eu não dou a mínima. Pensa que eu não sei o que é passar por isso? Tão sei que passei com você cada minuto desses minutos...

Não espere piedade, porque a piedade é um desrespeito com você mesmo, antes de tudo, e eu preso a mim um tanto quanto para me submeter a tal erro. Falaremos de seus erros simplesmente porque me agrada falar deles, suas conquistas, que tanto valorizas, para mim não são nada. Já vi cientistas, filósofos, artistas melhores que você e muito menos pretensiosos... Tuas conquistas não passam de conseqüências de tuas boas relações, as quais amolecem a visão crítica daqueles que contigo vivem, mas não a mim. Sempre tento tomar uma distância segura do que vejo e de que com quem me relaciono..

E então vejo a ti, tão comum quanto os comuns, senhor de nada a não ser de suas fantasias e de seus automartírios... Ah, se pudesses sentir o prazer que sinto a dizer essas palavras. Procuro imaginar teu rosto ao lê-las... De certo pensas em te matar. Não? Ah, é verdade, já não te entregas mais a essas vontades, me recordo. Me recordo e sei que é verdade, afinal te conheço muito bem... Te conheço porque o leio e releio com freqüência, sim, mesmo sem tu saberes... Sabes que acho teus textos medíocres, nunca escondi esta opinião, você sabe. Mas embora medíocres eles são seus retratos, e por entre esses retratos medíocres o vejo melhor que ti mesmo, um medíocre. Perdoe minhas gargalhadas, seria indelicado botá-las aqui, mas não poderia me furtar a lhe deixar a ar de meu humor.

Vejo-o em seu humor lacônico e sem sorriso. Sentes o coração apertado, não? Aquela sensação que um dia chamastes de câncer inexistente... Aposto que já não se lembrava de como era ter aquela dor que não doía, mas que lhe tirava o ar e espremia seu coração com freqüência não é? Esse é o preço a pagar pelas escolhas que fizestes, principalmente ao decidir confiar nos outros antes de ti mesmo... E espero que um dia admita, este foi o seu maior erro.

Talvez você até aceite o que lhe escrevo por confiar em mim, aceitando não de bom grado as observações pertinentes que lhe faço nessa carta. E isso é outro erro seu. Você só comete um erro atrás do outro, meu caro. Talvez se um dia decidires confiar em ti e aceitar as conseqüências de suas escolhas, sem botar o que pensam os que tu gostas na frente, talvez consigas dar o primeiro passo para se tornar alguém importante, não para mim ou para quem amas, mas para ti mesmo.

Você sabe que eu o odeio amargamente por ser assim, essa pessoa medíocre cuja arma maior é baixar a guarda dos que o rodeiam, em uma onda de compaixão. Eu não gosto de me sentir assim, nunca gostei, e por isso tomo distância segura de ti. Como dizia Nietzsche, o amor pelo próximo é um vício, nada mais do que um mau amor por ti próprio. E eu não preciso te dizer isso porque sabes bem, ouviste também essas palavras serem proferidas pela boca de um verdadeiro conhecedor da filosofia.

Escreverte me é bastante enfadonho, não porque escrever seja enfadonho, mas por ser para ti, por ter que me fazer perder meu tempo escrevendo para ti. Sabes que escrevo para ti só porque queres que eu escreva para ti, assim como sabes do meu asco de te escrever. Mas me fazes escrever esta carta para ti unicamente para se conhecer melhor, e assim se vinga de mim.

Muito bem, parece que temos um começo.

De seu estimado D.


2 comentários:

Anônimo disse...

Genial esse texto. Pela sua ideia e estrutura. E mais uma vez pelas verdades. Pelos tapas na cara. Pela coragem em dar a cara aos tapas. Sem contar com a luz no fim do túnel que me fornece esperanças e me faz acreditar. Agradeço esse final, precisamos crer que dá para seguir em frente.
Só tenho medo que se machuque além do necessário.
Beijos, meu amigo

Anônimo disse...

I have been thinking on weeds lately. Strange, no? :) But they are interesting things. They have no obvious beauty. Their scent does not inspire poetry. They are common and ignored at best. When thought is given to them it is to root them out, to poison and eradicate them. And yet, it is the humble and despised weed that remains long after the gardener is gone. Its unseen roots hold deeply to the soil. Its plain leaves continue their silent alchemy. Its immortality is not that of the cultivated hybridized flowers of glorious color and scent which haunt the poet and beguile the customer. Rather, it endures in unadorned dignity nourishing the soil from which it has sprung, its being in harmony with the heavens that touch its face.

Perhaps we need more weeds.

Abraços fortes,
FSR

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