Ele pensava que de repente poderia criar asas e sair voando pelo bairro dando tchau para todos, indo de encontro ao horizonte.
Pensava que comer jabuticaba ajudava contra azia e que em algum lugar do nordeste haviam serras feitas de rapadura e lagos de leite.
Por vezes dizia que foi neto de lampião e que um dia sonhou que estava do lado de dentro de sua casa e olhava pelas grades um estranho que estava sentado no seu quintal, com seu chapéu de couro de bode, rodeado de crianças, e que olhava fixamente pra ele com um olhar diabólico.
A biblioteca do mundo servia de residência para ele. Tinha a barba de Machado, os cabelos de Poe e andava estranho como Lovecraft. Se vestia como Drummond e quando se olhava no espelho, tinha a aparência de Lispector.
Quando cantava emitia sons de bem-te-vi e se tocava, lembrava das músicas de Chico e Vinícius.
Se soltava um pum, ria como uma criança trelosa e sem vergonha.
Sua pele era feita de lembranças e se alimentava de sonhos.
Quando tudo terminava, era sempre quem arrumava as cadeiras em cima das mesas e apagava a luz.
Os sentimentos saiam pela fumaça do cigarro naquela noite de setembro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário