O velho, sentado na cadeira de balanço a olhar a rua do terraço. Os 89 anos pesam em seu corpo.
Colegial incompleto, faculdade da vida.
Diz por vezes que só espera a morte e traz uma leveza e delicadeza que destoa gritantemente das rugas, cicatrizes e manchas que embrutecem seu corpo. Os dedos inseguros e enormes, como feito de pedra, a passarem na testa enrugada indo até a nuca lisa.
O velho, dormindo na cadeira, arrebatado pelo sono trazido pelos ventos quentes das tardes de outubro. Já não deve mais caçar quimeras, nem se apavorar diante do futuro, como se seu corpo fosse muralha protetora para seu espírito sem ambições.
Uma vida tranqüila, filhos, netos. A riqueza de toda uma vida vivida em seu devido momento, todas as conquistas, hoje, não são mais do que as derrotas.
O futuro, que por vezes me aterroriza, e o passado que por vezes me assombra, não se refletem em seus olhos, que começam a serem tomados pela catarata. Ele sabe que o futuro se faz no presente e que o passado não tem poder sobre este, somente os fantasmas que trazemos conosco.
Aprendo com seu silêncio. Sentado na varanda, bocejo. A tarde, arde.
Até o próximo outono será uma eternidade.
2 comentários:
Um tédio que emociona. Futuro que mete medo. Medo que entedia. Aprendamos, temamos, mas não deixemos que seja tédio. =*
Com certeza. Muito menos com um T (bem grande pra vc) rsss
Postar um comentário