É domingo. A canção das dez
chega pela varanda do pequeno apartamento.
Folheio as páginas do livro
enquanto o sol entra gradualmente pela sala, esquentando o que restou da noite
sem chuva.
Escuto a canção das dez, que
esquenta tanto quanto o sol. Não sei cantar, assovio.
Recosto no sofá, já sem ler.
Fecho os olhos e sinto o calor do sol que ilumina a sala como um holofote que
surge por detrás das grades da varada.
A canção das dez entra pelo
apartamento, preenchendo cada quarto, entrando pelas frestas das portas, pela
cozinha com seus pratos do jantar de ontem sobre a pia, esquentando o que
sobrou do café na chaleira sobre o fogão.
Penso em viajar. Penso no
mar.
Estou confortável comigo
mesmo, olhando o mundo inteiro da varanda, respirando a canção das dez.
Ela se vai de fininho, sem
se perceber.
Volto a ler
e penso em escrever.
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