domingo, março 30, 2014

Sobre as mudanças e o ano que agora começa agora no blog



É quase abril e estamos no outono.
As tardes quentes farão 10 anos. E para comemorar esse mês, esses anos que acreditei que não durariam tanto, convidei algumas amigas e amigos que participaram desse lugar sem corporeidade, mas com muito afeto, para ceder algumas linhas de seus textos para que eu publicasse aqui no blog.
Nesse mês de aniversário, outras serão as vozes e textos, que adorei ilustrar especialmente para esta comemoração.
Também, como quando algo que muda tende a impelir a sua própria transformação, haverá as velhas mudanças na estrutura do blog, assim como a criação de uma nova categoria de resenhas literárias. Porque se não dá pra escrever de forma regular coisas que tenham um mínimo de importância ou sensibilidade, com certeza dá pra escrever sobre livros que me foram importantes.
Enfim o ano novo começa agora, com amigos, afetos, e a sensação de que o tempo continua a caminhar nos pormenores do que ignoramos.
Então que possamos comemorar enquanto ainda é tempo.

domingo, março 09, 2014

Loki



           

             Então eu sento no sofá, olhando os livros na estante. O sol das 15 horas a entrar pela varanda, causticando o ambiente.
            Tomo um gole gelado e doce da cerveja escura que comprei na padaria. A garrafa tão suada quanto a minha testa.
            Fecho os olhos e me sinto na África de Mia Couto, sentindo o calor da tarde preguiçosa à tomar de conta do meu corpo, que tento, em vão, esfriar com a cerveja doce. Rogo aos deuses africanos para que eu vire algum animal de pelos grossos e patas fortes, enorme à se aquecer na relva da sala do meu apartamento, banhado pelo sol cor de ouro, que entra sem cerimônias e toma conta de tudo, e me toma como objeto tanto quanto aos móveis. E quando chegar, minha mulher, a querer saber se voltei da padaria, dar de frente com aquele animal enorme a expandir as costelas em uma respiração forte e ruidosa, fitando-a com olhos animalescos, perdido no tempo e no espaço à olhá-la com curiosidade.
            Como um Puck, a pregar peças, por ser resto desgarrado dos adoradores dos deuses primevos. Transformado em animal à fitar minha mulher. Mulata também negra como a noite, de pele branca que o sol castiga, convocando o sangue a lhe prestar reverência em suas faces. O animal e a mulher, fitando um ao outro eternamente na savana da sala de estar do apartamento ao sol do meio da tarde.
           
Abro os olhos e estou sozinho ao sol, homem, sem deuses, com uma garrafa vazia e o gosto doce nos lábios, como uma lembrança de um copo de cólera.
Escuto trompetes ao longe, e penso em praias brancas.

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