Então
eu sento no sofá, olhando os livros na estante. O sol das 15 horas a entrar
pela varanda, causticando o ambiente.
Tomo um gole gelado e doce da
cerveja escura que comprei na padaria. A garrafa tão suada quanto a minha
testa.
Fecho os olhos e me sinto na África
de Mia Couto, sentindo o calor da
tarde preguiçosa à tomar de conta do meu corpo, que tento, em vão, esfriar com
a cerveja doce. Rogo aos deuses africanos para que eu vire algum animal de
pelos grossos e patas fortes, enorme à se aquecer na relva da sala do meu
apartamento, banhado pelo sol cor de ouro, que entra sem cerimônias e toma
conta de tudo, e me toma como objeto tanto quanto aos móveis. E quando chegar,
minha mulher, a querer saber se voltei da padaria, dar de frente com aquele
animal enorme a expandir as costelas em uma respiração forte e ruidosa,
fitando-a com olhos animalescos, perdido no tempo e no espaço à olhá-la com
curiosidade.
Como um Puck, a pregar peças, por ser resto desgarrado dos adoradores dos
deuses primevos. Transformado em animal à fitar minha mulher. Mulata também
negra como a noite, de pele branca que o sol castiga, convocando o sangue a lhe
prestar reverência em suas faces. O animal e a mulher, fitando um ao outro
eternamente na savana da sala de estar do apartamento ao sol do meio da tarde.
Abro
os olhos e estou sozinho ao sol, homem, sem deuses, com uma garrafa vazia e o
gosto doce nos lábios, como uma lembrança de um copo de cólera.
Escuto
trompetes ao longe, e penso em praias brancas.
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