Entro pelos portões do antigo manicômio em um final de tarde de sexta feira.
- O senhor é advogado - diz com uma enorme convicção olhando fixamente pra mim.
- Não amigo, não sou. Minha profissão é outra - respondo meio encabulado com a intimidade com a qual ele me encara.
O sol se põe, deixando sombras pelo corredor central, no qual alguns pacientes andam a esmo.
- É sim, é advogado! - ele repete, segurando meu braço ainda com uma segurança na fala e olhos vivos.
- É o advogado das causas perdidas.
Fico olhando ele se afastar, como se nunca tivéssemos nos falado, com seus olhos perdidos no horizonte.
Essas palavras me acompanhariam por mais alguns dias.