domingo, outubro 01, 2017

Causas perdidas


Entro pelos portões do antigo manicômio em um final de tarde de sexta feira. 
- O senhor é advogado - diz com uma enorme convicção olhando fixamente pra mim. 
- Não amigo, não sou. Minha profissão é outra - respondo meio encabulado com a intimidade com a qual ele me encara. 

O sol se põe, deixando sombras pelo corredor central, no qual alguns pacientes andam a esmo. 
- É sim, é advogado! - ele repete, segurando meu braço ainda com uma segurança na fala e olhos vivos. 
- É o advogado das causas perdidas. 

Fico olhando ele se afastar, como se nunca tivéssemos nos falado, com seus olhos perdidos no horizonte. 
Essas palavras me acompanhariam por mais alguns dias.

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