sexta-feira, março 14, 2008

Fraternidade

Não, ele nunca havia procurado sua ajuda com tanto afinco antes. Na verdade quase nunca lhe pedia ajuda.

O outro, seu irmão, que ouvia atentamente suas angústias se mostrava deveras surpreso e acarinhado pela procura.

O que fazer? O que você faria no meu lugar? As vezes me da um aperto no peito sabe... Sim ele sabia. E sabia muito mais do que poderia vir, mas preferiu calar e escutar. Seu irmão, de repente se dava conta de que as respostas que ele procurava dar ao seu irmão mais novo eram as mesmas que ele mesmo enfrentara a pouco tempo e que por um capricho do destino não podia cobra-las ou faze-las a outro.

Outro. Ele sabia que ocupava o lugar de um outro, de um outro que já não mais existe e mesmo quando existia já ocupava este lugar.

Mais do que irmão, pai, mãe, ele se sentia um refugio para as angústias de seu jovem irmão, embora não se sentisse o templo mais sólido do mundo, na verdade nunca seria.

Era a primeira vez que era requisitado para dar respostas aos sentimentos de quem, antes, parecia ser muito mais sólido que ele.

E diante de todos os questionamentos que eram feitos a ele, e que em grande parte vinha de si para si mesmo, no fim ele nada mais tinha a responder a não ser:

Tenha calma, as vezes temos que enfrentar certas coisas e você pode contar comigo pra tudo.



Trilha Sonora
The Smiths: The boy with the thorn in his side


2 comentários:

Anônimo disse...

I like the new blog very much. The music is wonderful!

I've been sick but am slowly catching up with all the new things here. It's a very pleasurable break, btw. :)

I hope you are well.

FSR

Renatinha disse...

Ownnn...Incrível como as coisas que parecem imutáveis, que sempre estiveram por ali, mudam pela simples disposição nossa ou dos outros entes de olhar sob nova ótica o que pareceu sempre ser. E, nessas horas, o silêncio de tanto tempo parece finalmente ter sua razão de ser explicitada, sua legenda. Uma legenda fraterna. Irmãos-irmãos, irmãos-pais, irmãos-amigos, irmãos...De laços de sangue ou de espírito, ou os dois. Um dia a gente vê que o pentelho que te aperreava nos tempos de escola é um igual, um igual-diferente, q nos faz sentir realmente em casa. E esse sentimento - ou pelo menos a consciência dele - é pra poucos.
Bjos, bem!

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