terça-feira, abril 01, 2008

In Search of Lost Time














(O Semeador - Van Gogh, 1888)

Capítulo 3
O primeiro dia.

De certa forma me vi forçado a resolver assuntos burocráticos aos quais também fui mandando. Em uma manhã “resolvi” todas as pendências que exigiam minha atenção naquele momento.

Tinha pressa em tudo, pressa de terminar, pressa de voltar, pressa de que? De ficar? De saborear os dias que me restavam sem ter que ir de repartição em repartição pública, procurar documentos?

Não sei, mas uma ânsia pelo que viria a tarde eu tinha. Francine havia me ligado durante o dia dizendo que faríamos um tour com um guia local pelas usinas da ilha.

Na hora marcada estávamos seguindo para as usinas. Paramos antes em um monumento erguido em bronze a partir de um poema de Castro Alves, o mesmo monumento que a poucas décadas eu visitava constantemente e acabava por ter sempre na ponta da língua o poema ao qual se referia. Meus sentimentos pareciam ser de bronze.

A mesma coisa foram as usinas, meus sentimentos de concreto, de pedra, de água, de eletricidade, se moldavam com as árvores em flor, com a vegetação agreste que tomava conta do complexo das usinas de minha vida, das usinas que produziam tragédias e conquistas, dor e redenção...

Por algumas horas fui alguém a muito esquecido.


Capítulo 4 – Caminhadas

No fim da tarde, enquanto Francine e sua mãe dormiam no hotel, eu saí para caminhar.

Passei por alguns bairros de minha infância, olhei as casas de velhos colegas que já não mais existiam, olhei a velha escola onde minha mãe lecionava quando jovem e onde estudei boa parte de minha vida na ilha.

Desci a estréia ladeira que dava para minha casa na vila de trabalhadores, me lembrando do percurso que fazia sempre que voltava da escola durante a semana ou quando ia para as aulas de catecismo aos 8 anos.

O fim da tarde vinha calmo ao ritmo de meus passos, que deixavam de ser largos à medida que voltava no tempo. Então parei diante da casa.

A casa estava fechada, como sempre estivera desde que fui embora da ilha. Olhava pelas frestas do portão de ferro, desgastado pelo tempo, e via o interior cheio de mato, paredes com cupins, entulhos pelo quintal no qual costumava brincar com meu irmão mais novo.

Toquei a campainha da vizinha, que não via a anos. Ela não me reconheceu de imediato, estava mais velho, com barba por fazer. Dei-me conta de como estava velho ao vê-la. Lembrava-me dela muito mais jovem, conversando com minha mãe por cima do muro que separavam nossas casas.

Trocamos boas lembranças, e nos recordamos de bons momentos. Ela me contou que sonhara com meu pai uma semana atrás, disse que ele havia chegado para conversar com ela em um fim de tarde exatamente como este em que estávamos. Tentava se lembrar a todo custo o que haviam conversado, como se me devesse algum recado dele, e que após acordar ascendeu uma vela para ele. A simpática senhora fazia questão de dizer que não esquecia da gente em suas orações, e muito lisonjeando lhe agradeci.

Logo fui embora, prometendo que voltaria tão breve pudesse para revê-la.

Voltei caminhando para o hotel pelas mesmas ruas que me levaram a casa e a minha vizinha, sob a noite que agora se fazia presente, tomando os últimos raios de sol da cidade.

Tudo parecia um sonho, e eu apenas caminhava.

As árvores estavam todas em flor.


Continua

Trilha sonora:



Um comentário:

Stranger in the world disse...

chorei ...

por lembrar da distancia que eu tive dos tempos bons,quando o que eu mais queria era nao viver o que hoje vejo foi a fase mais feliz inconsequente que ja tive...

porque que se chora quando se pensa em algo que ainda nao aconteceu?

De pessoas que voce poderia dizer o quanto faz sentido a existencia delas, mesmo nao se fazendo isso, seja la qual for o mecanismo que trava as palavras...

filosofias para madrugadas com cafe forte e musicas melodicas...fumando um x-tra (by francine)...

achei as chaves do porao...

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