sexta-feira, maio 23, 2008

Das comunicações, da morte e das intermitências da vida.

Ando fazendo aulas de libras nos últimos meses, experimentando outros tipos de comunicação. Importantes comunicações.

Tenho aprendido mais do que falar com as mãos na verdade. Percebi que a linguagem escapa às palavras, escapa aos gestos, aos olhares. Um amigo castor talvez me dissesse sobre o âmago da palavra e chegasse ao sentimento. O castor sempre me falou sobre sentimentos como ponto de partida.

Tenho tido mais contato com a linguagem do silêncio, silêncio pelo qual escolhi. Dizem que há silêncios que falam mais alto. Meus prantos sempre foram mais silenciosos, tão alto era o volume e intensidade que chegavam. Quando Eles se foram, boa parte daquilo que eu escolhera para me dirigir se foi. Se foi de verdade.

Minha religiosidade (que já não era lá grande coisa), se foi. Minha inocência (que também não era lá grande coisa), se foi. Tudo tragado pelo pântano.

- Qual a linguagem de uma morte? – me perguntava quando antes não havia perdido meus tesouros.

Muitas vezes achava que a morte não tinha sons, que era da ordem do indizível. Nunca acreditei muito em Brás Cubas. As vezes achava a morte algo que ocorria inesperadamente e de forma tão inesperada como aconteceu com Macabéa.

Ah, mas isso foi antes de passar 10 meses em um leito de hospital sentindo sua espreita a cada minuto do dia, a cada madrugada, a cada som vindo os aparelhos e dos montes de fios que iam e vinham de um lado para outro. Antes de perder a última jóia mais antiga de meu anel. Nessa época eu lia livros para ele, na esperança que estivesse me ouvindo, e contava meu dia repetidas vezes informando sobre os jornais e os acontecimentos do mundo. Eu falava para quem?

Falo e escrevo para mim, e transito por caminhos que vão de mim para mim. Das intermitências da vida procuro saber mais, caminhando com as próprias pernas e com um empurrãozinho dos amigos e das pessoas que amo.

Minha barba coça com o calor e tomo menos café do que antes, deixo meu bigode espetado à Salvador Dali, calço sandálias de couro e tento ser mais verdadeiro em tudo.



Trilha sonora:


Um comentário:

Renatinha disse...

=/ Lindo. Triste, mas sempre lindo, como você. =*

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