quinta-feira, janeiro 08, 2009

As aventras de um marido intrépido aventureiro da vida cotidiana contra a ditadura da moda




E lá estávamos nós pelos corredores da Riachuello, um jovem casal a procura de roupas para pessoas normais.
Em meio a enxurrada de mulheres que transitava, em meio as roupas femininas estava eu tentando achar com minha esposa uma roupa que pudesse caber em uma mulher adulta e não em uma menina de 12 anos ou uma anoréxica. Minha viagem de tantos anos pelo universo feminino, começados na faculdade, não tinha como escapar de uma loja de roupas.
E eu, intrépido aventureiro da vida cotidiana aprendia a matemática dos manequins, suas somas e subtrações.
Aprendi sobre os efeitos psicológicos dos números dos manequins sobre as mulheres, não só pela minha esposa, mas por todas ao meu redor. Aprendi sobre a falta de respeito com o corpo da brasileira e suas curvas.
Realmente vivemos numa ditadura do corpo. Consumidos por um modelo que nunca conseguiremos ter. Um corpo moldado, sem vida, obrigatoriamente branco, de olhos claros, bocas carnudas, seios fartos, sem estrias e celulites; e, se por acaso for negro, que tenha os cabelos lisos por químicas de formol e tenha traços europeus.
Eu não sou mulher, mas sei bem como é estar fora dos padrões. Dos meus mais de 1,90 de altura ralo pra achar roupas que não se assemelhem a sacos de batatas, calcas que tenham a extensão das minhas pernas, mas não se assemelhem a calças de palhaços e sapatos que cheguem aos 44 ou 45 sem me deixarem mais anormal do que já sou.
Mas isso é um problema meu. Voltemos as mulheres.
Mas o que o marido, intrépido aventureiro da vida cotidiana, poderia fazer diante do enorme monstro invisível que penetra em nossas cabeças e nos cega diante do absurdo que é encontrar um manequim 40, quando na verde ele não passa dos 36? Ou das calças em que os manequins crescem inversamente proporcional ao tamanho e comprimento dos tecidos?
O que dizer senão que esse monstro invisível não gosta das mulheres, do seu corpo, não as compreende? Pelo menos não como eu. Ele não sabe nada sobre as delicias imperfeições do corpo da mulher, cada imperfeição que torna ela única, que torna seu corpo humano, diferente de um manequim de loja, os volume a mais, a textura, as diferentes texturas de cabelo, o cheiro...
Só sendo um monstro ou um alienado para não perceber a beleza por detrás de cada corpo, cada curva ou volume, mas para além disso, a mulher em si. A mulher, um camaleão humano, sempre em transformação:filha, irmã, mãe, avó. Da fiel dona do lar às executivas em sucedidas, das viciadas em chocolates às viciadas nas dietas da lua e dos chás verdes, das misteriosas às mais misteriosas.
Abraço-a e digo que não haveria quem eu pudesse desejar mais nesse mundo, ela era real.
Lhe dou um beijo em meio a milhares de transeuntes, eu, em meus 1,90 de altura todo desengonçado e a mulher mais bela do mundo.

3 comentários:

Unknown disse...

Fofinho, muito fofinho vc. Te amo.

Anônimo disse...

Muito fofo mesmo esse texto, pela sua sensibilidade masculina. Apesar de se tratar de mais uma das coisas crueis que a sociedade inventa e que nos permitimos machucar.

Eu só não diria imperfeições. Corpos perfeitos foram inventados. Nossos corpos são do jeito que eles são. Se eles e nós mesmos consideramos imperfeitos, foi tudo invenção. Meu corpo é como ele é, e como você diz, é único. Mesmo não seguindo padrões que querem unir corpos "perfeitos".
Adorei!
Beijão

Renatinha disse...

Que lindo, Caquinho! Não se pode esperar muito dos que não só o temem como se transformam nesse monstro (infelizmente, creio que seja a maioria) da beleza patética e imaginária. Nunca mais passei por aqui. Não pude ir ao casório, não comprei ainda o presente...enfim, muito feia eu. Farrapeira. Perdããããão. Dias agitados. Mas nunca é tarde para os bons amigos. Espero que neste ano possamos finalmente bater um papo legal sobre família, curvas ou cabelos de chapinhas. Beijão, querido!

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