domingo, outubro 25, 2009

Domingo


Foto (arquivo pessoal)


Domingo de dia claro, levemente quente...
Talvez eu dê uma caminhada pelo pequeno lado da universidade que fica aqui ao lado. Estava agora pouco escutando Chet Baker, um domingo daqueles que se lê em livros antigos, sobre coisas antigas.
Lembrei-me da viagem que fiz a muitos anos com meus amigos para meu primeiro congresso, vasculhando as fotos do computador. Tão jovem, sem a barba a comer o rosto, com os cabelos ainda grandes, do passeio até o farol para ver o por do sol, com os filhotes de cachorro correndo sobre a grama.
A boina já não me serve mais, mas ainda tenho essa terrível mania de me espantar com as coisas cotidianas e ser tragado pelo vento que passa furtivamente, levando o vapor que sai da minha caneca de café forte e deixa a minha sala com seu cheiro.

Trilha sonora:
Chet Baker - I Get Along Without You Very Well (cover by Tempestade)



quinta-feira, outubro 15, 2009

O dia




Se por vezes demoro a escrever, talvez seja porque o tempo agora me flui em direções diferentes, dobrando a uma vontade que independe da minha. O dia bem poderia ter sido hoje, ou ontem, ou a mais de uma semana, como o fora.
O dia em que pude compartilhar com queridos amigos um quarto do século de uma história que continua a se transformar perenemente. Uma história de dias e mais dias, de histórias de tardes quentes, noites frias, de todas as estações do ano.
Do velho casarão underground que íamos para ouvir músicas dos anos 80 e dançar até a noite clarear, do velho bar demolido, para onde íamos quando o bairro da cidade velha não oferecia mais nada além da rosa dos ventos, que marcava o marco zero da cidade, no píer de frente para os arrecifes de onde surgia o sol, não tenho lembranças melhores do que as que tenho com as pessoas que compartilharam desses momentos.
Minha tendência a me afastar e me aproximar varia tanto quanto meu expandir e meu retrair para o mundo, tentando em vão encontrar os amigos que se desgarraram e dos quais me desgarrei nos dias de acontecimentos durante os anos de dias que passavam despercebidos enquanto vivíamos, cada um, nossas vidas.
Atrapalhado em dar conta dos amigos distantes, dos próximos, de tentar traduzir o último e-mail de uma amiga distante e respondê-lo a altura, da minha amiga libriana que mora distante e cujos textos, que não mais escreve, me lembravam Clarice Lispector, da garotinha dos olhos verdes que começa a ter seu primeiro dentinho, do senhor e da senhora que me acolheram, dos parentes espalhados pelo país, da minha família que se estrutura dia após dia, do meu irmão mais novo que caminha sozinhos seus dias, em meio às contas de água, luz, cartões, a cama que quebrou, as planilhas de orçamento, a faxina da semana que vem, aos livros espalhados pela casa e os pratos do almoço que ficaram na pia para o outro dia.

E ainda estou lá a dançar com Carol’s, Pel e Nicolas, enquanto meu irmão está sentado no bar dormindo e uma amiga da faculdade aproveita o vento frio das ruas estreitas do velho bairro com seu namorado.

E ainda estou aqui, tomando meu café forte, pausando em cada palavra, pausando em cada dia, dobrando o espaço entre os dias, onde presente, passado e futuro são uma coisa só.

Trilha sonora:
Suedhead - Morrissey (cover by Tempestade)

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