terça-feira, junho 29, 2010

O Blog sobre si (ou Sobre a necessidade de falar deste espaço para seu próprio sentido).


Escrever sempre acaba sendo um exercício auto-imposto para mim. Um martírio que procuro aliviar escutando, como agora enquanto escrevo, Billie Hollyday, John Coltrane e Chet Baker. Já são seis anos de Tardes Quentes de Outono, do que antes era o DW e hoje é o Tempestade. E não paro de escrever, cada ano a seu ritmo, como se o escrever em si e não necessariamente o que é escrito, já fosse sentido o bastante para a sobrevivência desse espaço.
Do, hoje longe, ano de 2004 sobram tantas lembranças, quanto palavras no dicionário que por vezes fica perdido em meu escritório.
Lembro de quando não haviam tantos blogs, de como eram tão padronizados: à direita: nome, signo, idade, o que gosta, o que se odeia e à esquerda o detalhado cotidiano. Os que lia na época (“Life is but a dream (Eu na chuva)” e o “Sex, lies and one life”) embora diferentes, tinham algo que me fugia, que também não encontro aqui.
Não eram páginas na tela do meu computador, eram locais em que eu poderia me sentar à sombra e descansar, ou por onde eu caminhava à noite. Era esse o tipo de local que eu queria.
O nome veio de um texto que escrevi na varanda da minha casa, sentado perto do meu antigo pinheiro, com os cabelos molhados no sereno da noite. O conteúdo, principalmente, veio dos meus amigos de todos os cantos e momentos (passados e futuros).
Do filme de Godard e dos debates no boteco com a Jornalista e Pepel até a minha busca pelo tempo perdido já se passaram muitos anos, muitos livros, algumas mortes e alguns nascimentos também. O futuro me é saudosista. Tenho saudade de tudo que ainda não vivi porque o que já passou trago guardado dentro de mim.
Brinco de escrever, sem me importar com a métrica, concordando com a discordância por vezes. Brinco de tornar o cotidiano em história, de por pingos de chuva em dias de sol escaldante só para me refrescar. Minto da mais deliciosa forma as histórias que são verdade, na verdade de serem apenas histórias.
Danço sozinho em casa, como se não estivesse a fazer a faxina da semana, logo após chegar de outro plantão, deixando subir o vapor do café bem doce feito na cafeteira que ganhei de presente de casamento. O cotidiano ganha mais sabor quando temos tempo de parar para lembrar das pequenas coisas, daquela faxina que me deixou quebrado aquele dia, das horas de transito que pegamos na carona do amigo para chegar em casa tarde durante a semana, de por minha sobrinha para dormir em meus braços enquanto canto Beatles bem baixinho pra ela e sinto o peso do corpinho e sua respiração em meu ombro antes de pô-la no berço, ou daquela chuva que deu e deixou a gente todo molhado e tivemos que nos aquecer um no outro.
Ainda sinto o prazer que sentia quando caminhava por aquela alameda cheia de árvores as seis e meia da manhã a caminho da escola, com o sol se infiltrando por entre as copas e o vento frio que trazia todo o sono que havia deixado no banho frio de casa.
Talvez esse seja o momento em que paro um pouco e saboreio o cotidiano das minhas tardes quentes de outono. É bom, é bom..

“Escritores são mentirosos” – Erasmus Fry durante uma conversa, 6 de maio de 1986




Sobre as chuvas...

Estou pensando em juntar os amigos para fazer um mutirão voluntário nesse fim-de-semana para ajudar a separar e carregar as doações que chegam no quartel do Derby. Quer ajudar também? Mesmo que não seja aqui, no mutirão, sempre dá pra ajudar de alguma forma.
Quem quiser saber sobre local, hora e se vai rolar mesmo esse encontro solidário é só mandar um e-mail para: diaschuvosos@gmail.com e falar com o Tempestade.

sexta-feira, junho 18, 2010

A língua portuguesa fica mais pobre.



É com pesar que recebo e venho repassar a notícia da morte de José Saramago. Ele era o maior representante da literatura de língua portuguesa na atualidade.

Segundo nota da fundação Saramago, ele faleceu em decorrência de múltipla falha orgânica. Ele faleceu em sua casa, aos 87 anos, de forma serena e acompanhado pela família.

Para mim a língua portuguesa perdeu um pouco do seu simbolismo com a morte de nosso amigo lusitano. Digo amigo porque a amizade nasce da relação e é disso que sua obra trata, das diversas relações nos mais variados sentidos.

Acho que a essa hora ele deva estar batendo um longo papo com Fernando Pessoa.

Para nós basta lamentar a falta que suas palavras farão ao português, e ao mundo.

Quem freqüenta o Tardes Quentes de Outono, já deve ter percebido que há na lista de blogs que leio o blog do próprio Saramago. Quem nunca viu, é um ótimo espaço para apreciar bons textos.

O Caderno (ou os outros cadernos) de Saramago


Fontes:

Folha on line:http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/

Globo news: http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2010/06/morre-aos-87-o-escritor-jose-saramago.html

sexta-feira, junho 11, 2010

Restos da moda

Saindo um pouco desse lado recapitulador de minha própria vida e suas reflexões e indo para minha veia mais jornalista e sociológica, fiquei a refletir sobre um tema tão atual quanto chinfrim para mim: a MODA.
Em um período de fashions weeks, como o que vem acontecendo aqui nesse momento, fico ainda me surpreendendo com os contra-sensos que encontro quando vou à loja e dou de encontro a um dos últimos subprodutos das passarelas internacionais e nacionais, o que sobra das solas dos saltos-altos das supermodels: a roupa que vou comprar pra mim.Não sou uma pessoa fisicamente privilegiada de beleza e proporções corporais (se bem que, mesmo com toda a vaidade de um jovem adulto e a pressão da mídia sobre beleza, para mim não fazem mais falta do que possuo dentro da cabeça), mas gosto de me vestir bem e confortavelmente. Na verdade, a ultima coisa que levo em conta na hora de comprar as sobras dos desfiles, das modelos, dos anúncios, do lobby, das grifes e dos bilhões de dólares em investimento é o meu gosto. Compro o que me serve, melhor dizendo: no que caibo.
Não preciso ser mulher para sentir a grande exclusão social que existe quando o assunto é se vestir (e não quero dizer aqui se vestir bem ou mal, e sim, se vestir). A verdade é que o grande fator de exclusão é somente um, se chama PADRÃO. Eu não estou nesse padrão, tenho 1,93 metros e tenho meus quilinhos a mais como bom leitor sedentário, assim como quase toda a população brasileira.Embora ache muito interessante a leitura de Lipovetsky faz da moda como uma nova estrutura social, que talvez venha reciclar velhas ideologias, o que encontro está longe de minha visão confortável do trio básico (jeans, camiseta e tênis).
Quando as camisetas não tem cores berrantes, milhares de estampas sem sentidos, ou milhares de anúncios e marcas de suas fabricantes, as calças tem mais furos e são mais surradas que as de um mendigo, sem falar que encontrar um tênis (ou qualquer outro sapato) de numero 45 que não seja semelhante a um sapato de astronauta ou sapatos do Cirque de Soleil é piada.
Talvez o objetivo final da moda seja com que fiquemos tão ridículos como as pessoas que desfilam as grandes grifes. Pena que não ganho 1 centavo para bancar o palhaço.

Na passarela é conceito. Na rua é mau gosto.

O tempestade continua procurando
roupas legais que sirvam nele

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Quem procura...