Escrever sempre acaba sendo um exercício auto-imposto para mim. Um martírio que procuro aliviar escutando, como agora enquanto escrevo, Billie Hollyday, John Coltrane e Chet Baker. Já são seis anos de Tardes Quentes de Outono, do que antes era o DW e hoje é o Tempestade. E não paro de escrever, cada ano a seu ritmo, como se o escrever em si e não necessariamente o que é escrito, já fosse sentido o bastante para a sobrevivência desse espaço.
Do, hoje longe, ano de 2004 sobram tantas lembranças, quanto palavras no dicionário que por vezes fica perdido em meu escritório.
Lembro de quando não haviam tantos blogs, de como eram tão padronizados: à direita: nome, signo, idade, o que gosta, o que se odeia e à esquerda o detalhado cotidiano. Os que lia na época (“Life is but a dream (Eu na chuva)” e o “Sex, lies and one life”) embora diferentes, tinham algo que me fugia, que também não encontro aqui.
Não eram páginas na tela do meu computador, eram locais em que eu poderia me sentar à sombra e descansar, ou por onde eu caminhava à noite. Era esse o tipo de local que eu queria.
O nome veio de um texto que escrevi na varanda da minha casa, sentado perto do meu antigo pinheiro, com os cabelos molhados no sereno da noite. O conteúdo, principalmente, veio dos meus amigos de todos os cantos e momentos (passados e futuros).
Do filme de Godard e dos debates no boteco com a Jornalista e Pepel até a minha busca pelo tempo perdido já se passaram muitos anos, muitos livros, algumas mortes e alguns nascimentos também. O futuro me é saudosista. Tenho saudade de tudo que ainda não vivi porque o que já passou trago guardado dentro de mim.
Brinco de escrever, sem me importar com a métrica, concordando com a discordância por vezes. Brinco de tornar o cotidiano em história, de por pingos de chuva em dias de sol escaldante só para me refrescar. Minto da mais deliciosa forma as histórias que são verdade, na verdade de serem apenas histórias.
Danço sozinho em casa, como se não estivesse a fazer a faxina da semana, logo após chegar de outro plantão, deixando subir o vapor do café bem doce feito na cafeteira que ganhei de presente de casamento. O cotidiano ganha mais sabor quando temos tempo de parar para lembrar das pequenas coisas, daquela faxina que me deixou quebrado aquele dia, das horas de transito que pegamos na carona do amigo para chegar em casa tarde durante a semana, de por minha sobrinha para dormir em meus braços enquanto canto Beatles bem baixinho pra ela e sinto o peso do corpinho e sua respiração em meu ombro antes de pô-la no berço, ou daquela chuva que deu e deixou a gente todo molhado e tivemos que nos aquecer um no outro.
Ainda sinto o prazer que sentia quando caminhava por aquela alameda cheia de árvores as seis e meia da manhã a caminho da escola, com o sol se infiltrando por entre as copas e o vento frio que trazia todo o sono que havia deixado no banho frio de casa.
Talvez esse seja o momento em que paro um pouco e saboreio o cotidiano das minhas tardes quentes de outono. É bom, é bom..
“Escritores são mentirosos” – Erasmus Fry durante uma conversa, 6 de maio de 1986
Sobre as chuvas...
Estou pensando em juntar os amigos para fazer um mutirão voluntário nesse fim-de-semana para ajudar a separar e carregar as doações que chegam no quartel do Derby. Quer ajudar também? Mesmo que não seja aqui, no mutirão, sempre dá pra ajudar de alguma forma.
Quem quiser saber sobre local, hora e se vai rolar mesmo esse encontro solidário é só mandar um e-mail para: diaschuvosos@gmail.com e falar com o Tempestade.
Do, hoje longe, ano de 2004 sobram tantas lembranças, quanto palavras no dicionário que por vezes fica perdido em meu escritório.
Lembro de quando não haviam tantos blogs, de como eram tão padronizados: à direita: nome, signo, idade, o que gosta, o que se odeia e à esquerda o detalhado cotidiano. Os que lia na época (“Life is but a dream (Eu na chuva)” e o “Sex, lies and one life”) embora diferentes, tinham algo que me fugia, que também não encontro aqui.
Não eram páginas na tela do meu computador, eram locais em que eu poderia me sentar à sombra e descansar, ou por onde eu caminhava à noite. Era esse o tipo de local que eu queria.
O nome veio de um texto que escrevi na varanda da minha casa, sentado perto do meu antigo pinheiro, com os cabelos molhados no sereno da noite. O conteúdo, principalmente, veio dos meus amigos de todos os cantos e momentos (passados e futuros).
Do filme de Godard e dos debates no boteco com a Jornalista e Pepel até a minha busca pelo tempo perdido já se passaram muitos anos, muitos livros, algumas mortes e alguns nascimentos também. O futuro me é saudosista. Tenho saudade de tudo que ainda não vivi porque o que já passou trago guardado dentro de mim.
Brinco de escrever, sem me importar com a métrica, concordando com a discordância por vezes. Brinco de tornar o cotidiano em história, de por pingos de chuva em dias de sol escaldante só para me refrescar. Minto da mais deliciosa forma as histórias que são verdade, na verdade de serem apenas histórias.
Danço sozinho em casa, como se não estivesse a fazer a faxina da semana, logo após chegar de outro plantão, deixando subir o vapor do café bem doce feito na cafeteira que ganhei de presente de casamento. O cotidiano ganha mais sabor quando temos tempo de parar para lembrar das pequenas coisas, daquela faxina que me deixou quebrado aquele dia, das horas de transito que pegamos na carona do amigo para chegar em casa tarde durante a semana, de por minha sobrinha para dormir em meus braços enquanto canto Beatles bem baixinho pra ela e sinto o peso do corpinho e sua respiração em meu ombro antes de pô-la no berço, ou daquela chuva que deu e deixou a gente todo molhado e tivemos que nos aquecer um no outro.
Ainda sinto o prazer que sentia quando caminhava por aquela alameda cheia de árvores as seis e meia da manhã a caminho da escola, com o sol se infiltrando por entre as copas e o vento frio que trazia todo o sono que havia deixado no banho frio de casa.
Talvez esse seja o momento em que paro um pouco e saboreio o cotidiano das minhas tardes quentes de outono. É bom, é bom..
“Escritores são mentirosos” – Erasmus Fry durante uma conversa, 6 de maio de 1986
Sobre as chuvas...
Estou pensando em juntar os amigos para fazer um mutirão voluntário nesse fim-de-semana para ajudar a separar e carregar as doações que chegam no quartel do Derby. Quer ajudar também? Mesmo que não seja aqui, no mutirão, sempre dá pra ajudar de alguma forma.
Quem quiser saber sobre local, hora e se vai rolar mesmo esse encontro solidário é só mandar um e-mail para: diaschuvosos@gmail.com e falar com o Tempestade.
3 comentários:
e nunca pare de escrever que nunca pararei de ler.
Tenho uma conexão com seus textos um tanto peculiar, me sinto dentro deles...
e escrever organiza os pensamentos, não?
Juh: Escrever organiza os pensamentos sim, na verdade acho que faz mais que isso. Os torna concretos.
Acho que não paro de escrever tão cedo.
Que lindo! Não, não pare, please! =)
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