De vez em quando o vento trás os ecos dos gritos. A brisa quente que chega furtiva pelo Pacífico e Atlântico, às vezes, parece trazer o calor atômico de 65 anos atrás.
Tenho lembranças de Hiroshima. Lembranças vindas de ecos que já perderam o som.
O segundo bigbang que dá origem a nossa era data de 65 anos, o flagelo da ultima Grande Guerra. Calor e fúria. Silêncio no final. Após 1945 nascemos meio natimortos.
Tenho lembranças de Hiroshima, das crianças indo para escola, das milhares de pessoas indo para o trabalho antes do silêncio, antes da primeira rajada de vento quente. Antes da morte instantânea de 78 mil pessoas. Antes do som voltar em um amálgama de berros, choros, gritos e desespero.
Prédios e vísceras no chão. Lembro de Einstein citar Gandhi.
Vejo fotos anônimas e imagino as milhares de pessoas que ainda não sabiam que estavam mortas, após a queda da bomba atômica.
Lembro do pavor da constatação de que se poderiam matar milhares
O vento frio que vem da chuva, que bate na minha varanda, leva os pensamentos pra longe. A paisagem se transforma e tudo volta a nascer. Prédios cada vez mais altos. Pessoas cada vez mais apresadas.
Vovô, quando vivo, falava que o tempo a tudo curava. Talvez.
Menos minhas lembranças de Hiroshima.
(Em memória aos mortos e sobreviventes da bomba atômica de Hiroshima)
(Hiroshima antes da bomba) (Hiroshima após o bombardeio)
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