sábado, agosto 20, 2011

Cap III: Do encontro com a criatura e seus olhos negros



Já faziam algumas horas de sua empreitada na parte proíba do vilarejo. Na verdade já faziam mais de um dia. Pés cansados e mãos cortadas dos espinhos e das pedras ásperas das encostas que davam para o abismo.
Meio-dia, pausa para comer alguma coisa. Sozinho na vegetação árida, sob a sombra da árvore retorcida.
Sua cabeça viajava por mundos e histórias distantes, nem percebera o pequeno diabinho que saia das sombras do arbusto. Fumava um cachimbo de madeira e tinha pernas peludas e arqueadas para trás.
Cumprimentou-o em meio a fumaça espeça do cachimbo, lhe oferecendo diversas barganhas em troca de sua alma.
Fora o único em muito tempo que lhe dirigia palavras com cortesia.
Passaram a tarde conversando, por fim, o diabinho também havia tempo que não tinha alguém para conversar, além das larvas e dos outros animais peçonhentos.
O mormaço trazia uma certa moleza, e ele parava por vezes à fitar os olhos da criatura. Negros, fundos. A fumaça  a lhe encobrir a vista.
Eram os momentos que mais esperava, quando a fumaça dissipava e podia fitar os olhos da criatura.
Via a si mesmo neles.

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