Texto: Luis Magalhães
Ilustração: Tempestade
Encontrava-se o enforcado mal,
enlouquecera - dizia a si mesmo, mas nunca fora ele possuidor de cabeça ao
menos em posição normal. Naquele dia como a maioria dos outros, os deuses não
tinham muito tempo a perder, preferiam se ocupar de suas próprias vaidades.
Sentado com sua harpa em uma nuvem qualquer, o Cupido conseguiu sentir os
lamurios silenciosos do enforcado em seu sofrimento, e decidiu que podia dar
uma descida. E por que não consolar esse de mundo virado para o ar?
O enforcado vislumbrava o nada, seu
olhar perdido indicava que alí já não mais existia uma alma inteira, era um
resto, um fragmento de esperança duramente machucado.
-Olá! O que te rouba o sorriso pelo dia, que te apaga o
brilho dos seus olhos, e te afasta de todo o mundo? Pareces tão mal, disse o
Cupido desfocado, entendendo que ali não era o seu lugar.
-Oi. Oh Cupido, se outrora eu me encontrava na eminência do
apertar da corda, hoje já me voga no falso desejo que ela contorça a vida e
leve minha dor, antes
sentir a corda a me ameaçar, do que o infortúnio que me
fizeste sentir.
-Ô, é de amor que sofres?
Surge nos olhos do enforcado um brilhar fraco como do fim de
uma vela que nos seus últimos segundos ilumina todo um quarto. Com voz firme e
compenetrado, ele responde: - Sofro da perda, da falta, da fome, da companhia,
da voz, do sorriso, do cheiro, do sabor, de sonhar, do ter que, do não ter que,
do esperar, de não esperar, de saber, e do não querer. Sofro pela entrega.
-Oh enforcado, amar é sofrer, se não te entregas, não podes
amar. E se sabes que não sabes amar deverias tirar o verde, antes que ele
cresça em espinhos. Raros são os rios que já nascem fortes, eles se transformam
pelas águas que recebem. Não procures tirar a fumaça do fogo enquanto a madeira
ainda estala. Apegues-te à eterna esperança que, mais cedo ou mais tarde, tudo
dê certo, que depois da tempestade vem a calmaria.
- Não sou o louco para blasfemar acusando-te de não
conhecedor do amor, amigo Cupido. Mas nenhuma coisa que queiramos que dure pode
começar pensando quando vai quebrar. Não se pode separar o explendor das rosas
azuis dos seus espinhos, os rios não precisam ser fortes para destruirem campos
quando inudam, e muitos rios não diferentes de córregos formam grandes lagos
belos e tranquilos. Não ousarei tocar no fogo neste momento que ele consome, o
tempo é de esfriar, mas não procuro calmaria.
Tenho a certeza de que antes ter amado e sonhado com o possível sem fim,
do que nunca ter vivido o que vivi. No fim, nenhum amor morre, só nos torna
mais amados e a outra pessoa mais amada, transformamo-nos em pessoas melhores
quando podemos dividir um pouco do que só existe em cada um de nós.
O Cupido encantado:
- Se quando saí de minha nuvem com coração apertado tinha
escondido a minha dor de um trabalho mal feito, tu me ensinas que amar é muito
mais do que ser amado, é um estado de ignorância de tudo o que não é. É o poder
de renascer com a alegria de ter vivido e aprender que o mundo é provado como
nossa alma pode provar. Da tua pureza, não posso e não vou-te acalmar o
espirito, vou te dar apenas a certeza, que sempre hás de amar.
Luís Magalhães (24 de junho de 2012.) - Direitos reservados.
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Um texto que adorei ilustrar, do meu grande amigo Lulu!
3 comentários:
Eita que o Tardes Quentes tá é bonito!
Faz tempo que não vejo esses meus amigos queridos. Lulu e Caju! Saudades melancólicas! hahahaha
Carols! Teu coment chamou a gente pra junto hoje né?
Apareça aqui sempre que quiser =****
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