segunda-feira, julho 29, 2013

À guisa de uma faxina de inverno






“- Acordo de um sonho louco, no qual eu administrava uma franquia de comida tailandesa, às 4 da manhã. Não se dá para ter sonhos tranquilos quando a vida está um caos” – dizia pra si mesmo no escuro, como a um terceiro, tentando olhar as horas no relógio do quarto.

- Ah, meu Deus! Dai-me paciência. Outro dia que vou passar com medo do mundo acabar e desmoronar sobre minha cabeça.

Ele tomava banho e ruminava a mesma velha história, da importância do seu “trabalho”. Tinha que limpar e arrumar as coisas erradas do universo, tal qual uma limpeza de fim de inverno em uma casa grande. Só descansava aos fins-de-semana, e às vezes nem isso.

Quando jovem, fizera um pacto com uma criatura que já era velha quando a lua nasceu e que lhe prometeu algo tão efêmero, porém  magnífico e impossível aos olhos do jovem.

“[...] - Pronto pra assinar? Aqui e aqui – sorria.”

“- Sim, mas que tipo de trabalho eu vou ter que fazer mesmo pra pagar?”

“- Você conhece o mito de Sísifo? Não? Bem, será bem menos vertical do que o daquele garoto bobo. Ah, e assine aqui também. [...]”

Dito isto, passado o pequeno momento de apogeu de seu desejo, assumira a labuta de evitar o caos, ordenando e trocando os objetos das prateleiras de um universo inteiro, a guisa de uma faxina de inverno.

Então ligava o rádio e, para começar, pegava a vassoura, tirando os entulhos debaixo do tapete pensando que, pelo menos, não estava na administração de um restaurante.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Quem procura...