“- Acordo
de um sonho louco, no qual eu administrava uma franquia de comida tailandesa,
às 4 da manhã. Não se dá para ter sonhos tranquilos quando a vida está um caos”
– dizia pra si mesmo no escuro, como a um terceiro, tentando olhar as horas no
relógio do quarto.
- Ah,
meu Deus! Dai-me paciência. Outro dia que vou passar com medo do mundo acabar e
desmoronar sobre minha cabeça.
Ele
tomava banho e ruminava a mesma velha história, da importância do seu “trabalho”.
Tinha que limpar e arrumar as coisas erradas do universo, tal qual uma limpeza
de fim de inverno em uma casa grande. Só descansava aos fins-de-semana, e às
vezes nem isso.
Quando
jovem, fizera um pacto com uma criatura que já era velha quando a lua nasceu e que
lhe prometeu algo tão efêmero, porém
magnífico e impossível aos olhos do jovem.
“[...]
- Pronto pra assinar? Aqui e aqui – sorria.”
“- Sim,
mas que tipo de trabalho eu vou ter que fazer mesmo pra pagar?”
“-
Você conhece o mito de Sísifo? Não? Bem, será bem menos vertical do que o daquele
garoto bobo. Ah, e assine aqui também. [...]”
Dito
isto, passado o pequeno momento de apogeu de seu desejo, assumira a labuta de
evitar o caos, ordenando e trocando os objetos das prateleiras de um universo
inteiro, a guisa de uma faxina de inverno.
Então
ligava o rádio e, para começar, pegava a vassoura, tirando os entulhos debaixo
do tapete pensando que, pelo menos, não estava na administração de um
restaurante.
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