Dos cadernos de L.H.
"Então,
no meio da viagem, paro para refletir, porque é natal, e porque não há trabalho
hoje e quase ninguém está interessado em cobrar produção ou em trabalhar.
E,
assim como os milhões que param para refletir sobre seja lá o que for que o
natal represente para cada um, eu me volto novamente pra mim e esqueço dos que
estão próximos, mesmo em distância, pelo menos por um curto momento.
Então
me lembro de agradecer, por tudo aquilo que não consigo por em palavras, não só
pelos presentes e ausentes, mas pelas tragédias pessoais com as quais me
deparei nesses anos. Agradeço pela falta que dói, uns dias mais e outros menos,
e pelo terror.
Porque
agradecer pelo bom é fácil demais, é trivial demais, é importante demais. Eu
olho pela janela do ônibus e faço minhas orações para não sem quem a escutar,
peço perdão pelo que ainda ei de fazer e não peço mais nada pra mim.
Olho
o esmalte gasto das minhas unhas enquanto rezo por aqueles pobres seres humanos
cheios de defeitos e histórias improváveis, tão interessantes e insignificantes
quanto a minha própria.
Sinto
a gota de suor que escorre pelo pescoço e penso e campos de morango, penso no
frio, como se pensar por si só amenizasse o calor dessa véspera de natal à 40 graus.
Estou com calor e estou apaixonada na véspera de natal.
Fecho os olhos... e volto a pensar em campos de morangos."
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