Pegou
a camisa amarela e vestiu. Foi trabalhar. Beijou a mulher e os filhos. Era
mentira.
Disse
que iria
voltar, cansado mas feliz, para eles. Era mentira.
Tomou
mais um gole antes de dizer que na sexta-feira quitava a pendura da semana
passada. Era mentira.
Sentou
a mendigar e contou que os pássaros haviam quebrado sua cama, tomando sua casa
e fazendo dela um ninho pra eles. Que, por causa desse acontecido, havia ido
para a Índia meditar e que voltou para trabalhar na construção de uma cidadezinha
no interior do estado, porque pagavam bem e ele era forte como um halterofilista
de circo.
E
disse que esse foi o seu fim, consumido pelo trabalho e por aquele vilarejo que sugava a alma dos forasteiros para
alimentar a população.
Era
mentira.
Ele
já estava internado naquele manicômio a décadas. Enorme, barbudo e com fios grisalhos
a despontarem nas têmporas. Das janelas
gradeadas, olhava os outros a passarem no corredor, com gritos ecoando,
perdido na realidade.
E
depois , cansado, deitava no colchão coberto por uma lona plástica dormia. Dormia como quem acorda para os
sonhos e ficava com aquela sensação de que havia sonhado algo, que não
lembrava.
E
decidia tocar a vida, porque havia muito trabalho pela frente.
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