Corro
da chuva, pisando nas poças que se formam na calçada. Estou voltando pra casa.
Escuto
pássaros, nas árvores que margeiam a avenida de poucos prédios. Estou sozinho
na rua.
O
tênis molhado, a meia úmida e o coração apertado. Você deveria ficar comigo e aprender
a língua secreta dos pássaros.
O
dia ainda estava cinza na manhã de sábado e eu estava só, correndo da chuva,
com os livros de Rousseau que você me emprestou.
Lembrei-me
daquelas histórias que você me contava, sobre as lendas e assombrações do livro
de Gilberto Freyre, e pude jurar que naquela casa abandonada no final da rua de
terra havia algo que afastava os gatos e outros animais.
E
quando parei embaixo da velha árvore pra me proteger da chuva já não tinha
medo, porque eu era um menino de poucos medos. E pensava se você gostaria de
ficar comigo e aprender a língua secreta dos pássaros.
Naquela
época não havia tempo para trens, nem taxis. Nenhum era mais rápido do que os
pés apressados do garoto que descia a rua com seus livros, a pisar nas poças da
rua sem asfalto, guardando em silêncio a língua secreta dos pássaros.
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