sábado, janeiro 11, 2014

A língua secreta dos pássaros



Corro da chuva, pisando nas poças que se formam na calçada. Estou voltando pra casa.
Escuto pássaros, nas árvores que margeiam a avenida de poucos prédios. Estou sozinho na rua.
O tênis molhado, a meia úmida e o coração apertado. Você deveria ficar comigo e aprender a língua secreta dos pássaros.
O dia ainda estava cinza na manhã de sábado e eu estava só, correndo da chuva, com os livros de Rousseau que você me emprestou.
Lembrei-me daquelas histórias que você me contava, sobre as lendas e assombrações do livro de Gilberto Freyre, e pude jurar que naquela casa abandonada no final da rua de terra havia algo que afastava os gatos e outros animais.
E quando parei embaixo da velha árvore pra me proteger da chuva já não tinha medo, porque eu era um menino de poucos medos. E pensava se você gostaria de ficar comigo e aprender a língua secreta dos pássaros.
Naquela época não havia tempo para trens, nem taxis. Nenhum era mais rápido do que os pés apressados do garoto que descia a rua com seus livros, a pisar nas poças da rua sem asfalto, guardando em silêncio a língua secreta dos pássaros.


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