Eu
também morri um pouco. Tudo bem, eu também morri um pouco outras vezes. Não há
muito de mistério na morte, muitos mais são os do mundo dos vivos. Há dois
espíritos que vivem no meu apartamento, às vezes elas me visitam, mas nunca falam
nada. Talvez não tenham mesmo nada para me falar.
Olho
pra ela, pro seu sorriso e penso em tardes quentes e músicas do Belle & Sebastian, porque seu
sorriso é leve. As bochechas coradas da pele branca, que contrasta com a minha
própria pele mais escura, de um sol que quase nunca tomo.
Enxugo
suas lágrimas peço desculpas, todo homem já fez uma mulher chorar. Ela é apenas
uma mulher, e eu sou apenas um homem. Um homem para uma mulher.
Me
perco entre as mulheres, eu que sou apenas um homem. Sento ao redor delas no trabalho,
compartilho xícaras de café, troco cartas, me atrapalho por entre e-mails de
saudades e chego em casa e me deito na nossa cama, ao seu lado. Eu, homem
solitário.
Eu
que me descubro mulher ao revelar uma fragilidade na qual, se traveste uma
força que me era desconhecida, que despreza as fibras dos músculos dos braços,
da força de tendões, fibras.
Eu
enxugo suas lagrimas e rio. Porque ela não está chorando de tristeza afinal,
nem eu. Então em vez das desculpas, agradeço, e me permito ser forte ao seu
lado, de uma forma nova.
Eu
morri algumas vezes e hoje vejo que nem doeu, não dói mais. Deito ao seu lado e
sinto o cheiro doce dos seus cabelos e me permito morrer um pouco mais.
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