Stuart tomava uma xícara de café ao lado de Sara, ambos sentados na pequena mesa da cozinha do velho apartamento que conseguiram comprar juntando a pouca grana que tinham.
Geladeira enferrujada nas bordas, um pano de prato quadriculado e colorido cobrindo os copos recém lavados do almoço. Lotados de contas de água luz e telefone, que se acumulavam durante o mês, eles bebiam café.
Contas e mais contas para fazer, a matemática da vida incluía muito mais do que eles dois, indo do condomínio do apartamento, das numerosas contas até a meia entrada que pagavam, quando iam no velho cinema que passava os filmes franceses que adoravam, por terem amizade com a bilheteira que os conhecia desde antes de casarem.
E entre somas, divisões, multiplicações e diminuições da renda que tinham, eles não conseguiam disfarçar o sorriso. Nunca pensaram estar passando por uma situação dessas, surpreendendo-se principalmente por não estarem arrancando os cabelos e discutindo por causa dos gastos.
Eles estavam amando tudo isso.
Stuart com a barba por fazer e Sara com um lenço cobrindo os cabelos, mais pareciam aqueles casais dos enlatados da TV americana de décadas passadas. Mas o fato é que nada se resolveria com uma mexida de nariz, nem cruzando os braços e acenando com a cabeça.
- É o preço da liberdade – dizia Sara. E ambos caiam na risada, o céu era plúmbeo e o cheiro do café se espalhava pelos pequenos cômodos da casa. Subia um cheiro de terra molhada dos primeiros pingos grossos das nuvens de chumbo.
E eles riam. O riso deixava o coração quente. Marcas de café o pano da mesa.
Logo estavam indo de mãos dadas para o quarto, as contas iriam ficar pra depois. Estavam interessados em outra matemática, uma matemática de seus risos, de seus beijos, de seus corpos. De seus sonhos.
A chuva entrava pela janela no fim daquela tarde, molhando os papeis sobre a mesa e o cheiro de café se tornava cada vez mais forte.
Trilha sonora:
2 comentários:
E é o ideal de casal (rimou): não deixar os problemas rotineiros estragarem a relação. E para os problemas rotineiros também deve ser bom ter dois pombinhos sem estresse pra cima deles. =*
Lindo, lindo..
Café se exala do hálito e da urina, não deve ser diferente do suor e dos sonhos - o cheiro de café se tornava cada vez mais forte -. ;)
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