Diários do Rio: Encontros
São coisas com as quais não deixo
de me surpreender. Essas coisas que são levadas pelo vento, efêmeras.
Pães quentinhos, café, suco de
laranja e bolo. Manhã de domingo levemente fria. Entre um gole e outro, rimos
em uma pequena cafeteria de tijolos aparentes, em tons de marrom, baunilha e
vermelho. Rimos porque o vapor do café embaça meus óculos quando bebo.
Conversamos sobre o que não
reconhecemos de nós mesmos onde estamos. Falamos sobre choques de realidades
sociais no Rio. Bebemos nosso café na Gávea, bela e arborizada. Favelas ao
longe. Ostentação e necessidade. Bem que dá vontade, mas resisto em me sentir
culpado pelas mazelas daqueles que na sua luta diária encontram as mais
diversas formas de viver, sobreviver, amar.
Caminhamos pelos intrincados
passeios do jardim botânico. Lembro-me de como achava que as plantas eram o
ápice da perfeição. Fincadas na terra, erguendo-se ao sol, silenciosamente a
moverem-se ao sabor do vento. Hoje não vejo muita diferença da terra que acolhe
as raízes das palmeiras imperiais, que fazem fila indiana até o chafariz
central, da terra e da poeira da Bahia antiga cantada por Vinícius, que na
infância me eram constitutivas e que hoje se misturam com a terra do mangue
pernambucano de Chico.
Caminho pelo jardim botânico e
encontro com minhas próprias raízes.
No centro entramos em igrejas.
Ela faz pedidos. Não sei o que fazer. É belo, não pela imensidão física, mas
pela imensidão em si. Não consigo chegar muito perto da Candelária. Os sons de
tiros antigos ainda ecoam muito alto. Fico muito desconfortável. Penso no homem
da gravata florida de Jorge Benjor quase como um mantra enquanto me afasto de
lá.
Não tive sorte com os
espetáculos, realmente não vi uma peça. Aprendi sobre outras coisas. Continuo a
aprender. Aprendo enquanto faço as malas para pegar o voo para Buenos Aires.
Aprendo no caminho até o aeroporto. Irei continuar aprendendo com meus
encontros comigo mesmo até chegar aonde, não sei.
Nenhum comentário:
Postar um comentário