Diários de Buenos Aires
O avião pousa, após momentos
intermináveis de turbulência. Chove bastante, é verdade.
Procuramos a fila da imigração e
só somos liberados após registro das digitais, identidade carimbada e foto para
a imigração já depois da meia-noite. Empurro as malas, ansioso por fazer tantas
coisas, mas com certeza dormir primeiro.
Chego em Buenos Aires nos últimos
dias do outono. Perto do hotel no Soho folhas de três pontas despencam
levemente das árvores e cobrem o chão da rua.
Acordamos tarde. O sol costuma
acordar tarde também. Tomamos café no hotel. É o primeiro hotel que fico que
toca rock como música ambiente. Juro que escutei AC/DC, Queen, Smiths, Beatles,
Stones. Era muito divertido tentar adivinhar qual banda tocava baixinho toda vez
que passávamos pelos seus corredores.
Ficamos na enorme Palermo no
soho, a poucos minutos de seus bosques. Passeamos pelo centro, percorrendo
corredores e avenidas de lojas, cafés, livrarias, artistas de rua e
restaurantes, tropeçando em brasileiros a cada 3 minutos e meio. Acolhedor.
Convidativo. Rimos e nos enrolamos para nos comunicar, é tão engraçado que
quase não incomoda as freqüentes investidas (educadas, digamos de passagem) das
diversas pessoas que oferecem pacotes com shows de tango e jantares.
Descubro que os hermanos adoram
Beatles e que os punks são mais bem arrumados e aparentemente mais limpos do
que os do Brasil. E mais importante, os mapas de lá funcionam. Caminhamos e
damos de cara com protesto de trabalhadores, escoltados pelas tropas de choque.
Nada que altere os olhares e o caminhar apressados das pessoas que percorrem o
centro da cidade e passem ao lado sem se interessar muito pelo que acontece ao
seu lado.
Pagamos um peso e vinte e cinco
centavos no ônibus e percorremos o longo caminho que leva do centro de volta a
Palermo Soho, passando por Belgrano. Olho pela janela do velho ônibus, que
parece ter saído dos anos 60, e vejo a luz que ainda se infiltra pelas frestas
dos prédios. São mais de 18h e o céu se degrada em vermelho, laranja e amarelo.
Está mais frio. Acompanho o nome das ruas e traço o percurso no mapa que trago
na outra mão. Olho pra ela e pergunto o que faremos a noite, enquanto o ônibus
segue seu curso. Então ela diz:
- Você não perde por esperar, rs.
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