domingo, abril 28, 2013

Bossa Nova



Ele olhava pela janela. Eram dias de chuva, enfim a chuva que demorara meses e que, agora, dava leve toque de frio aos cômodos quase vazios da casa.
Estava sentado em sua mesa, à olhar pela janela. Xícara vazia, livros nas estantes. Via a chuva.
O cheiro de terra molhada, doce. Lembrava-se da chuva de sua infância e do cheiro doce de terra molhada do quintal, das roseiras em flor.
A casa de sua infância. Escombros varridos do passado, as pétalas das rosas-meninas, da roseira de sua mãe, levadas ao vento em sua memória.
Uma velha canção de Vinícius no rádio, sua vida em bossa nova, em um saudosismo de quem lavoura as lembranças com esmero.
Olhando as árvores, lembrou do Rio. Do café-da-manhã tomado na Gávea. Estava com saudade da chuva, ela, que trazia algo perdido de si. Mensageira das pessoas e das lembranças, nunca compartilhadas.
Súbito, lembrou-se que era domingo. Levantou-se da mesa e foi embora com o vento.

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