“O
pinto, esse piava. Sobre a mesa envernizada ele não ousava um passo, um
movimento, ele piava pra dentro. Eu não sabia como cabia tanto terror numa
coisa que era só penas. [...] Era impossível dar-lhe a palavra asseguradora que
o fizesse não ter medo, consolar coisa que por ter nascido se espanta. [...] ”
“[...]
Mas era amar o nosso amor querer que o pinto fosse feliz somente porque o
amávamos. Eu sabia também que só mãe resolve o nascimento, e o nosso amor era
de quem se compraz em amar: eu me revolvia na graça de me ser dado amar, sinos,
sinos repicavam porque sei adorar. Mas o pinto tremia, coisa de terror, não de
beleza.
O
menino menor não suportou mais:
-
Você quer ser a mãe dele?
Eu
disse que sim, em sobressalto.”
(Lispector,
Clarice in: A Legião Estrangeira. Ed. ROCCO, p. 97)
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