Clarice
Lispector foi a única escritora que conseguiu me aproximar minimamente do que
seja o feminino, disse inominável chamado mulher, do mistério do silêncio
humano que fala à todos nós.
Água
viva, livro de 73, traz uma reflexão interna da personagem, uma Clarice
pintora, em um monólogo existencial, perto da experiência do real do corpo, do
tempo, vida e morte, através de uma imersão de sons e silêncios.
Li
Água Viva para uma pessoa muito amada
em seu leito do hospital. Me afundei nesse denso poema em prosa, lendo
pausadamente, na esperança de que ele pudesse escutar, ou entender minimamente
minha voz.
Nesse
monólogo sem enredo, que também eram as nossas vidas, me perdia numa
atemporalidade sem fim, sem meio, entre as quatro paredes do hospital, ao lado
de sua cama.
Foi
um livro do qual, após esses anos que carrego nas costas, ainda não emergi,
para relê-lo.
É
um livro para se viver, respirar, tomar fôlego e imergir. Talvez na esperança
de se reencontrar.
Água Viva - Clarice Lispector. ed Rocco
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