quarta-feira, dezembro 23, 2009
quarta-feira, dezembro 02, 2009
Caravaggio
Sempre gostei das obras de Caravaggio, principalmente do contraste entre claro e escuro, ainda mais quando as cores fortes se mostram cada vez mais vivas.
As vezes medito como são Jerônimo, sei que a pele ficará flácida e a carne perderá seu tônus. Não sou santo, muito menos católico, mas sempre há algo que irá ser comum a nós por enquanto.
Dizem que a madrugada é a hora da morte, não acredito muito. Deixo as reflexões para Saint Jerome, que reflita sobre a martirização e suas mortificações.
terça-feira, novembro 10, 2009
Jazz
Fim de semana, festival de jazz na Torre Malakoff. Esposa, irmão, amigos, música boa....
Já não desenho, nem fotografo a meses, e nem tenho tido muita energia pra nada. Leio, leio e não saio do lugar. Sou um mal-agradecido.
Ouço trompetes, enquanto canto no chuveiro. Ah que calor!
Ainda prefiro sentar na rede da varanda e tomar meu café quando acordo sem sono, sentindo o sol chegar lá pelas quatro e meia, cinco horas.
Consigo pensar em nada, nessas horas um gole de café. Vazio, e sinto o frio da madrugada ir embora. Fico com sono logo, logo.
Volto a dormir e ainda escuto trompetes distantes.
Trilha Sonora (escute enquanto lê):
So What – Miles Davis e John Coltrane
domingo, outubro 25, 2009
Domingo
Domingo de dia claro, levemente quente...
Talvez eu dê uma caminhada pelo pequeno lado da universidade que fica aqui ao lado. Estava agora pouco escutando Chet Baker, um domingo daqueles que se lê em livros antigos, sobre coisas antigas.
Lembrei-me da viagem que fiz a muitos anos com meus amigos para meu primeiro congresso, vasculhando as fotos do computador. Tão jovem, sem a barba a comer o rosto, com os cabelos ainda grandes, do passeio até o farol para ver o por do sol, com os filhotes de cachorro correndo sobre a grama.
A boina já não me serve mais, mas ainda tenho essa terrível mania de me espantar com as coisas cotidianas e ser tragado pelo vento que passa furtivamente, levando o vapor que sai da minha caneca de café forte e deixa a minha sala com seu cheiro.
Trilha sonora:
Chet Baker - I Get Along Without You Very Well (cover by Tempestade)
quinta-feira, outubro 15, 2009
O dia
Se por vezes demoro a escrever, talvez seja porque o tempo agora me flui em direções diferentes, dobrando a uma vontade que independe da minha. O dia bem poderia ter sido hoje, ou ontem, ou a mais de uma semana, como o fora.
O dia em que pude compartilhar com queridos amigos um quarto do século de uma história que continua a se transformar perenemente. Uma história de dias e mais dias, de histórias de tardes quentes, noites frias, de todas as estações do ano.
Do velho casarão underground que íamos para ouvir músicas dos anos 80 e dançar até a noite clarear, do velho bar demolido, para onde íamos quando o bairro da cidade velha não oferecia mais nada além da rosa dos ventos, que marcava o marco zero da cidade, no píer de frente para os arrecifes de onde surgia o sol, não tenho lembranças melhores do que as que tenho com as pessoas que compartilharam desses momentos.
Minha tendência a me afastar e me aproximar varia tanto quanto meu expandir e meu retrair para o mundo, tentando em vão encontrar os amigos que se desgarraram e dos quais me desgarrei nos dias de acontecimentos durante os anos de dias que passavam despercebidos enquanto vivíamos, cada um, nossas vidas.
Atrapalhado em dar conta dos amigos distantes, dos próximos, de tentar traduzir o último e-mail de uma amiga distante e respondê-lo a altura, da minha amiga libriana que mora distante e cujos textos, que não mais escreve, me lembravam Clarice Lispector, da garotinha dos olhos verdes que começa a ter seu primeiro dentinho, do senhor e da senhora que me acolheram, dos parentes espalhados pelo país, da minha família que se estrutura dia após dia, do meu irmão mais novo que caminha sozinhos seus dias, em meio às contas de água, luz, cartões, a cama que quebrou, as planilhas de orçamento, a faxina da semana que vem, aos livros espalhados pela casa e os pratos do almoço que ficaram na pia para o outro dia.
E ainda estou lá a dançar com Carol’s, Pel e Nicolas, enquanto meu irmão está sentado no bar dormindo e uma amiga da faculdade aproveita o vento frio das ruas estreitas do velho bairro com seu namorado.
E ainda estou aqui, tomando meu café forte, pausando em cada palavra, pausando em cada dia, dobrando o espaço entre os dias, onde presente, passado e futuro são uma coisa só.
Trilha sonora:
Suedhead - Morrissey (cover by Tempestade)
quarta-feira, setembro 23, 2009
Água corrente
As vezes esqueço que moro perto do mar, acabo passando meses sem vê-lo, não que não goste, mas acabo tendo mais afinidade com o céu. Não a toa meu signo é de ar.
Na verdade eu fujo mais do sol escaldante, já tenho um bronzeado natural que poderia levar até o ártico sem desbotar nada.
Uma vez, conversando com um grande amigo, enquanto caminhávamos pela orla, ele me perguntou se eu pudesse escolher o que eu seria: o mar ou o céu? Prontamente respondi que seria o céu, olhando as nuvens que cobriam parcialmente o sol. Ele havia me dito que gostaria de ser o mar.
Quando perguntei o porquê dele querer ser o mar, então olhou para ele e disse:
- Imagina que debaixo dessa água deve ter um monte de vida, animais, plantas, toneladas, milhares. Um mar totalmente vivo.
O céu nunca tinha me parecido tão vazio.
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Hoje me deu vontade de traduzir Essa música do Belle & Sebastian. Na verdade ela estava me vindo a mente o tempo todo enquanto escrevia...
"Descanse seus pés no mar
Descanse seus pés no mar
Meu amor, é o melhor lugar para estar
Tire seus sapatos e dobre seus dedos
Vou congelar esse momento na memória
Problemas vêm e vão
O problema que conhecíamos
Continuará conosco até envelhecermos
Continuará conosco até que alguém decida partir
Decida partir
Com prudência, sem arrependimentos, eu faço outro
sanduíche
Me empanturro, eu sei que as coisas estão te
incomodando
Mas o que posso fazer?
De repente, sem aviso
Em uma pálida manhã azul
Você decide que seu tempo está acabando
Uma escolha consciente para se deixar pendurado
Suspenso no ar
É uma emergência
Não há mais \"aguarde e verá\"
Talvez se eu fechar os olhos
Os problemas se partirão entre nós
Pessoas vêm e vão
Você está procurando no rosto de todos
Por um pequeno cintilo de verdade
Para o que você está passando, meu garoto
Eu o deixei seco
Os sinais eram claros de que você não ia a lugar algum
Lugar algum
Seguro para uma queda
Seguro para uma queda
Lugar algum
Lugar algum
Seguro para uma queda
Está tudo dando errado
Mais tarde, enquanto caminhava para casa
A lavoura estava à mostra e órion também
Eu pude ver a casa onde você vivia
Eu pude ver a casa onde você deu
Todo seu tempo e sanidade às pessoas
E então esperou para que elas o reconhecessem
Elas falavam uma de cada vez
Mas os olhos delas passavam por você
Por você
Quem está vendo você?
Quem está vendo você?"
Trilha Sonora:
Belle & Sebastian: Ease You Feet In The See (cover by Tempestade)
terça-feira, setembro 22, 2009
Spring's come
A primavera começará em pouco tempo.
Embora o outono seja a estação em que eu me sinta mais a vontade, poucos sabem que nasci na primavera. Ambas não deixam de ser fases de transição, eu mesmo sempre fui dado as transições, às vezes um pouco intransitivo.
Cantarolo uma velha canção do Belle & Sebastian e tento esquecer o calor causticante da tarde. Minha mente está vazia e tenho um livro de 500 páginas pela frente, provavelmente virão novidades nessa primavera, minha mente está vazia por hoje.
Penso que não há porque escrever quando se está vazio, as palavras soam vazias de estruturas e significados. Estou ficando velho, e já se acumulam folhas de outono e flores de primavera durante as décadas passadas.
“Summer in winter
Winter in springtime
You heard the birds sing
Everything will be fine”
Trilha sonora:
Belle & Sebastian - A Summer Wasting (cover)
sexta-feira, setembro 11, 2009
sexta-feira, agosto 28, 2009
O peixe-boi e o poço
Enquanto voltava pra casa, bem depois da hora do rush, quando as luzes amarelas dos postes antigos ganham destaque após a profusão de faróis e pessoas das 18 horas, me vi pensando no peixe-boi do poço.
A praça resistia ao tempo, com as velhas palmeiras imperiais de sempre, os balanços vazios e os poucos mendigos que se recolhiam nos bancos ou molhavam o rosto na fonte. Eu não conseguia me lembrar onde ficava o poço, nem se fora destruído com o tempo. Quando garoto, em minhas férias, costumava ir até lá, ver a atração que cativava os adultos e crianças: o peixe-boi que morava no poço. Não sabia como ele havia parado lá, mas me lembro bem de seu rosto pra fora da água escura e imunda, coberta de pipoca e restos de comida que adultos e crianças jogavam.
E lá ficava ele a rodar eternamente naquele poço minúsculo, que mal o devia caber, dando longos mergulhos talvez para fugir da gritaria e do barulho da praça. Ele já estava corcunda, devido aos anos preso ao poço, sem poder se movimentar direito. Lembro da pele escura e dos olhos escuro dele, mal devia saber o que acontecia, mal devíamos sentir o que o acontecia.
As luzes cortavam as janelas do ônibus, que começava a se afastar do terminal da praça, onde a noite tomava de assalto cada centímetro de espaço existente. Lá estava eu a olhar, procurando o poço na praça que se afastava cada vez mais da visão, juntando-se ao montante de elemento daquele bairro.
Onde estaria a nadar o velho animal que um dia olhou com seus olhos negros para aquele menino, que como qualquer menino sentia medo e curiosidade a respeito daquela enorme coisa viva?
Tentava afastar o pensamento dele, enquanto abria um livro e tentava me envolver na história, mas só mergulhava mais nas águas daquele poço, cada vez mais fundo na água escura.
O poço não tinha fim.
domingo, agosto 09, 2009
Músicas que não consigo parar de cantarolar ultimamente
Flickr
O nome
Veja só, até parece que é o fim.
O meu piano eu vendi, porque o sensível me dói.
Eu comprei uma biker, uma calói colorida.
Fiquei sem grana, porém... pedalo o mundo, sinto a rua..
Leio a banca de revista, tem entrevista.
Veja só e eu que pensei que fosse o fim.
Tudo que tinha eu revi, mas minha alma ficou.
Uma galinha comer, um filme pra assistir.
Alguém avise: Mainha to bem.
(Castor Luiz)- Myspace
quinta-feira, agosto 06, 2009
Preso nos sonhos novamente
Cada vez chove mais e a cada vez mais minha relação com a chuva muda.
Escrevi a um amigo de longa data e lhe mandei uma foto de quando éramos garotos, quando a vida ainda não se tornaria esse lugar que hoje ocupo em mim.
O vento frio adentra pela varanda e toma todos os cômodos da casa. Como é bom sentir frio nessa cidade que faz tanto calor. Caminhar descalço pelo chão gelado.
Vou morrer e caminho em sua direção contrária. Estou bem mais velho do que quando comecei a 5 anos atrás e com muito mais perdas e redenções do que o jovem recém chegado a faculdade. Se não, pelo menos tenho hoje mais músicas para cantar do que antes.
Hoje quero ter filhos, olhar em seus olhos e lhes dar o mundo. Um mundo que construo aos trancos e barrancos, tentando sempre manter o coração leve e a mente aberta.
Mas o que é que to falando? Já já vou acordar e não consigo parar de sonhar que estou postando no blog.
sábado, agosto 01, 2009
A day in the Life
(yeah, very bad english, but who cares?) =]
Um dia na vida de todos nós.
......................
I read the news today oh boy
About a lucky man who made the grade
And though the news was rather sad
Well I just had to laugh
I saw the photograph
He blew his mind out in a car
He didn't notice that the lights had changed
A crowd of people stood and stared
They'd seen his face before
Nobody was really sure if he was from the House of Lords.
I saw a film today oh boy
The English Army had just won the war
A crowd of people turned away
But I just had a look
Having read the book, I'd love to turn you on...
Woke up, fell out of bed,
Dragged a comb across my head
Found my way downstairs and drank a cup,
And looking up I noticed I was late.
Found my coat and grabbed my hat
Made the bus in seconds flat
Found my way upstairs and had a smoke,
and somebody spoke and I went into a dream
I read the news today oh boy
Four thousand holes in Blackburn, Lancashire
And though the holes were rather small
They had to count them all
Now they know how many holes it takes to fill the Albert Hall.
I'd love to turn you on.
(Lennon & McCartney)
quarta-feira, julho 22, 2009
Movimento
Ela dançava em círculos de olhos fechados até ficar tonta. A vida era uma dança circular, uma ciranda solitária ao redor do nada que era sua vida.
Seu corpo suava em bicas e ela ficava imaginando como poderia suar tanto, como podia se preocupar tanto. Olhava-se nua no espelho e tentava juntar os pedaços de si.
Cabelos sobre os olhos, o chão frio sobre seus pés... Voltava a dançar em círculos de olhos fechados, para sempre rodando, rodando...
......
Sete horas. A voz do Brasil anunciava mais atos secretos descobertos, reproduzindo os discursos de parlamentares em um som repleto de estática, com a mesma péssima qualidade de 40 anos atrás. Uma cidade de concreto, repleta de segredos.
Oito horas. Os jornais relatavam epidemias mundiais, crises financeiras, mais uma matança em um colégio americano seguido pelo suicídio de um aluno. Fome e enchentes aqui, AIDS e fome na África, Guerra e fome em Gaza, Petróleo e fome nos Emirados.
Vinte e quatro horas de novas notícias a cada minuto na web. Campeão de comer tortas, briga de gangues, alguém canta solitário, alguém filma seu cachorro vomitando, 30 segundos de um rosto cortado pela lâmina da gilete vertendo sangue, alguém que consegue enfiar a mão inteira na boca...
......
Ela girava em seu quarto com os olhos fechados.
O mundo girava ao redor dela, com fome. Ambos giravam para o mesmo lado.
Cápsulas pelo chão, a parca luz do sol das quatro e quarenta e nove da manhã se infiltrava frio pelas persianas abertas de seu quarto. Ela girava. A música era lenta e ela podia sentir a grama molhada sobre seus pés. Cheiro de terra molhada, leve garoa lá fora e o vento frio entrava eriçando seus pelos.
Ela não conseguia parar de girar. Logo estava tomando banho e indo para o trabalho. Duas horas e dois ônibus. Ponto batido às oito e sete. E ela continuava a girar em seu quarto.
Quatro horas em uma mesa, papeis e mais papeis, um cafezinho e cinco minutos para um cigarro. E ela continuava a girar em seu quarto.
As doze e vinte e três o almoço, sem fome, outro gole de café para voltar à mais quatro horas de papeis e mais papéis. Os pés doíam no salto. E ela continuava a gritar em seu quarto.
Três horas e meia para voltar, dois ônibus, chuva torrencial. E ela continuava a gritar em seu quarto. Três horas em pé, apertada, suada.
Ela não parava de girar e gritar em seu quarto. Passos rápidos, ela subia as escadas desesperadamente ao seu próprio encontro. Primeiro andar, segundo andar, no terceiro andar já não conseguia manter o ritmo. Podia ouvir de longe o grito. Ela girava de braços abertos e sentia os respingos da chuva que invadia seu quarto pela janela aberta.
Porta aberta, saltos jogados no canto. Sentia o chão frio enquanto caminhava descalça pelo apartamento até seu quarto.
Ao abrir a porta só havia as mesmas cápsulas no chão, uma pequena poça formada pela água, que respingava pela janela, e uma luz neon que vinha de um letreiro a dez metros de sua janela, que brilhava em tons púrpura e azul.
Caminhou até a varanda, sentando na poltrona que dava de frente para a extensa avenida, sentindo os pingos da chuva e o vento frio que tirava seus cabelos dos olhos.
E lá ficou a olhar o mundo girar
Trilha sonora:
PJ Harvey: Down By The Water
terça-feira, julho 14, 2009
sábado, julho 11, 2009
Palavras
Fui convidado pelo castor para ir a um espaço que ele inaugurou com a esposa. Amigos, conhecidos e pessoas por conhecer. Tanto para nos conhecer, naquele espaço de almofadas e tapetes, de fotos de flores do interior do estado em molduras pelas paredes, de estantes de livros com poucos e importantes livros...
Quem um dia irá imaginar que estivemos lá depois de todos nós irmo-nos? Quem iria imaginar que por algumas horas pudemos deixar mascaras do lado de fora e nos atrever a não julgar por alguns instantes... Quem poderia saber como foi bom rever amigos, e dizer quantas saudades senti.
Na verdade eu queria falar de livros aqui. Livros que li, estou lendo, irei ler. Não costumo me ler tanto. Aqui jogo as palavras e as deixo tentar fazer sentindo, com erros de concordância, de gramática.
Compro livros na livraria e espero terminar o do Renato. Quero falar menos de mim.
Quero menos de mim mesmo.
Quero palavras.
quarta-feira, julho 08, 2009
Urbana Legio Omnia Vincit
Ando me perdendo na vida de um outro, lendo passo-a- passo as sobras de uma vida que agora tornou-se pública.
Tenho um pouco de pudor de ler biografias, mas leio essa com a lentidão de quem sabe como termina a história e não quer chegar ao final.
Ler a história do Renato (sim só Renato), está sendo meio que me apoderar de uma história de um período que foi meu também e que, por ser uma criança, se mostra as vezes tão distante e enevoado em minha mente.
Tenho me descoberto de repente lá, nas entrelinhas, com os mesmos amigos, bebendo, filosofando e discutindo literatura, na varanda de Carol’s, com o Castor e Pepel até amanhecer, enquanto passa um filme russo na TV, pra depois voltar pela orla, sentindo a brisa fria do mar, cantarolando e sentindo o vinho fazer efeito...
Na verdade tudo é pretexto para lembrar de bons momentos...
Ler a vida de outro é curioso, algo de um voyeurismo mudo, mas que ameaça se apresentar a qualquer momento. Eu ainda tenho pudor... não consegui terminar o livro em que haviam sido publicadas as cartas de Clarice Lispector à suas irmãs.
Toda história merece ser contada, e essa é uma boa história, uma história de pessoas reais.
Como você e eu.
Trilha Sonora:
Legião Urbana: Tempo perdido
quarta-feira, junho 24, 2009
Obrigado
Que sorte eu tenho de ter amigos que me salvam mesmo quando nem sabem que salvam. Meu amigo Castor Luiz sempre me surpreende, e nem sabe que surpreende.
“Caminhando”, como não fazia a um bom tempo pelos sites do meu blog, eis que vou visitá-lo no myspace encontro as músicas do último álbum que ele gravou e que, por privilégio, vi nascer algumas das músicas de lá.
Voltei no tempo, e de repente me vi no seu apartamento pintando nosso livro com Thais, lanchando e tocando violão, sentindo o vento que vinha do mar e tomava conta da sala quase sem móveis, impecavelmente branca e cheia de plantas...
Cantarolando...
Um pouquinho dessa grande pessoa pode ser encontrado no http://www.myspace.com/castorluiz , com destaques paras as músicas “Veja só”, “Cachorro” e “O nome”.
Cantarolando sozinho na frente do computador... feliz.
terça-feira, junho 23, 2009
Música, cultura e impressões de um estrangeiro
É engraçado quando me pego escutando músicas regionais e de repente cria-se um ar de mística. O som das produções daqui assumem um caráter tão místico. Não há como escutar Alceu Valença, Zé ramalho sem essa sensação, assim como escutar Legião Urbana sem seu cunho político ou Ira! sem a impregnação urbana.
Mesmo morando a tanto tempo aqui, ainda me perco com eu estrangeirismo, ao tentar diferenciar os sons que escuto tanto. Quando é baque solto? E virado? Caboclinho é de índio e afoxé é de afro?
É engraçado como escuto Coltrane, Milles Davis e Chet Baker e me transporto ao som do piano, do trompete, da harmonia, ao passo que com Mothorhead, Pink Floyd, Deep Purple e o restante da trupe a agressividade toma diversos ares e aspectos tão elevados, sublimados pelo som pesado, pela harmonia e a composição de timbres e tempos... Mas escutar as músicas daqui ainda é algo meio que indefinido, chega a ser quase primal.
Percussão, metais, história, folclore, a ancestralidade que não é minha pulsa, ela não quer sublimação, quer sair e se juntar ao som, na ciranda de mãos, no baque do maracatu e na loucura febril dos malabarismos das passistas...
A rabeca toca desafinada e comanda toda uma orquestra de emoções que dançam sem compasso ao escutar.
Ora, o que seria esse louco compasso senão a vida?
Trilha Sonora:
Alceu Valença : Bobo da corte/Casaca de couro/Sol e chuva
domingo, junho 21, 2009
Aos meus amigos
Ando relembrando tempos de telhados molhados. Sim me recordo bem de como eram escorregadios e como eu costumava rumar pela cidade velha nos fins-de-semana, muitas vezes sozinho, outras tantas com amigos tão queridos.
Nas ruas feitas de paralelepípedos antigos, com linhas de bonde de séculos passados da cidade velha, de um bairro que já fora boêmio, me lembrava do vento frio que vinha do mar e passava dos arrecifes para o marco-zero do então bairro, correndo por entre as estreitas ruas de casarões antigos, como seu próprio nome, até ir parar por sobre meus ombros na frente daquele barzinho underground que costumávamos ir para dançar ao som de The Smiths, Joy Division, New Order, The Cure, David Bowe e tantos outros.
É engraçado ver que não fazem tantos anos assim, mas que essas lembranças já se juntam ao montante das boas lembranças que carregamos como remédios para os pequenos momentos de tédio e solidão. Não que a solidão seja algo que eu tema, ou que busque um retorno a momentos que tiveram seu exato momento, mas esse adulto que já caminha pra deixar de ser tão jovem ainda carrega sua meninice o tempo todo.
Os dias de chuva sempre me lembram nossas idas e vindas nas noites daquela rua agitada, cheia de pessoas diferentes, estranhas, mas sempre com bons amigos.
Trilha sonora:
Joy Division: Love Will Tear Us Apart: (não tanto pela letra da música, mas sim por todos que vêm me visitar quando ela toca)
segunda-feira, junho 15, 2009
Breath
Nessas noites de chuva fico olhando os gatos que rondam os telhados das casas. Despreocupados caminham. Seguindo sua fome e seu cio, tocam as patas nas telhas molhadas das casas abaixo do andar do meu prédio.
Pergunto-me se há poesia na vida cotidiana. Se debaixo de todas as contas do mês pra pagar, ainda resta um pouco de Oscar Wilde, Clarisse Lispector, Fernando Pessoa.
Um mundo louco a beira do colapso e eu penso na minha sobrinha de olhos verdes que tem menos de 1 ano de vida e fico com saudades. Saudades de vê-la batendo palmas para o nada e por vezes olhar fixamente em meus olhos, rindo abertamente sem nenhum dentinho.
Há muito tempo eu não caminho pelos telhados molhados das casas. Nunca tive vocação para felino.
Trilha sonora:
Pink Floyd: Breath
Pink Floyd: Breath (reprise)
quinta-feira, maio 21, 2009
I’m Throwing My Arms Around Paris
In the absence of your love
And in the absence of human touch
I have decided
I'm throwing my arms around
Around Paris because
Only stone and steel accept my love
In the absence of your smiling face
I travel all over the place
And I have decided
I'm throwing my arms around
Around Paris because
Only stone and steel accept my love
I'm throwing my arms around
Around Paris because
Only stone and steel
Accept my love
I'm, I'm throwing my arms around
Paris because
Nobody wants my love
Nobody wants my love
Nobody needs my love
Nobody wants my love
Yes you've made yourself plain
Yes you've made yourself very plain
(Morrissey 2009)
domingo, maio 03, 2009
Vento no litoral
sábado, abril 18, 2009
Bright Jones, 30 minutos e pequenas descobertas
Aproveitando os últimos 30 minutos antes de ir para o meu plantão, eis que sinto o ímpeto quase improvável de escrever. O pretexto que me faltava.
Na verdade me pergunto por que não estou escrevendo. Imagino e redijo enormes textos em minha mente, nos ônibus que percorrem as enormes ruas dessa cidade cheia de pontes e canais, mais quente do que eu gostaria e mais acolhedora do que poderia merecer.
Mas o que está em questão não é a minha falta de comparecimento, ou de opiniões sobre o que acontece. É sobre o que me motiva a escrever logo agora, após assistir “O diário de Bright Jones”.
Antes que essa notícia se torne um alarme para quem não está habituado a me ler, ou os que descobrem esse espaço por um acaso, procurando por palavras soltas no Google que acabam levando até aqui, deixo claro que não sou um amante desse tipo de filme, não sou um homem de comédias românticas, sou o outro lado da moeda da minha esposa geminiana.
Mas hoje ganhei um presente. Dar ouvidos ao pedido dela de assistir ao filme, que ela deixou estrategicamente antes de viajar, evitando deixá-lo de lado e inventar que dormi durante o filme, foi algo que se junta ao rol das pequenas descobertas que podem mudar a vida de uma pessoa.
Pegar-me assistindo um filme sobre o universo estranhamente feminino para mim, um dia após voltar completamente acabado do show do Motörhead (pois é), foi no mínimo engraçado.
Embora ainda não seja um amante das comedias românticas, ou conhecedor de tantos filmes diferentes como minha geminiana (já que como outro lado da moeda, acabo voltando meu vício para os livros), descobri um pouco desse sentimento que acredito que ela, e talvez tantas outras tenham em ser cúmplices de um filme que faz comédia justamente dos mesmos assuntos que tornamos comédias diariamente em nossas vidas, das pequenas inseguranças, paranóias, dos relacionamentos (e ai não só do universo feminino, mas de nós humanos, homem, mulher, viciados em sexo, celibatários e servidores públicos).
Não sou machista, acredito que a maioria saiba, mas também não sou tão mocinho ou vilão como os consortes dos filmes de comédia romântica.
Talvez mais do que vilão ou mocinho, eu seja daquele tipo de personagem que quase nunca são colocados nos filmes, os que não têm o charme do Hugh Grant, o dinheiro de uma família inglesa abastada, os que não demoram pra perceber que estão apaixonados nos últimos 30 minutos da película (os últimos minutos que levo para terminar de escrever esse texto). Não precisei esperar até o fim do filme para dizer a minha Bright Jones que a amo do jeito que ela é e adiantar o tão esperado beijo final.
Os filmes acabam sendo curtos demais pra mim. Ando mais para o velho seriado de antigamente sobre o casal que descobre, sofre, enfrenta todos os desafios, ora com pieguices, hora com humor sem sentido, dramas e epopéias, e com episódios pay per view impróprios para menores.
quinta-feira, março 19, 2009
Novas postagens, mudanças de nomes, perdas de peso e tempestades
Ando cansado da velha retórica das descobertas, das contemplações. Andei alguns meses preso ao concreto, menos Bilac e mais Machado e Nelson Rodrigues.
Tenho trabalhado como uma mula, e não tenho tido o ímpeto de visitar este espaço para escrever. Já fui esquecido várias e várias vezes, e por várias e várias vezes me reconstruí por aqui.
Mas ai está a questão. Onde é aqui? Onde me encontro e onde nos encontramos aqui?
Um espaço formado por palavras sem massa corpórea, permeada as vezes por imagens de momentos e pessoas que se perdem nos milhares e milhares de sites e informações que surgem a cada segundo.
Crise financeira, Obama, deslizamentos de terra, enchentes, fóruns de informações, o próximo a sair do Big Brother, fofocas dos famosos, sites pornô, New York Times on line, blogs, fotologs, milhões de terabits de informações a cada segundo. Toda informação já é passado.
Um passado que permanece eternamente, que pode ser resgatado e relido quantas vezes você quiser. Um espaço onde a palavra tem mais peso que o corpo.
Perdi 11kg e parece que esse peso foi tirado proporcionalmente às minhas palavras. O blog está mais leve também, senão de conteúdos talvez de qualidade. Qualidade de vida (virtual) é bom. E mudanças já não assustam.
A uns 5 meses já não sou DW... talvez já não o fosse a muito tempo, e ao me reinventar esbarrava justamente na peça que não era trocada.
Bem, acabei ganhando uma nova alcunha, da qual me afeiçoei e pela qual fui sendo redescoberto por outros anônimos como eu. Não mais um DarkWizard, clichê mais do que utilizado hoje em dia, criado na adolescência em pleno apogeu do mIRC.
Surgem os msn’s da vida e aquilo que não se transforma acaba esquecido por aqui, e passei de um bruxo americanizado para uma força da natureza mais cosmopolita. Demorei pra me acostumar com o novo nome, mas hoje ele surge com espontaneidade. Tempestade.
Uma vida tempestuosa, tanto para causar estragos quanto para trazer as chuvas necessárias
para se crescer.
domingo, janeiro 25, 2009
Explorações
Para quem ainda tem seus pais talvez possa ser difícil entender o que pretendo discursar nas seguintes linhas. O porquê das perguntas que virão, da necessidade de respostas para lembranças triviais talvez sejam incógnitas até mesmo para as quem responde.
Hoje me pergunto se as coisas das quais me lembro realmente aconteceram. Viajo em minhas lembranças e não encontro respaldos para a veracidade delas. Minha infância se perde entre os contos e histórias que ouvia de meus pais, assim como nossos filhos um dia se perguntarão se aquela mais longínqua lembrança realmente aconteceu da forma q se lembram...
Peguei-me pensando nisso enquanto arrumava velhos CDs e discos de vinil deles. Jovem guarda, jazz, Beatles, Ray Charles, Big Bands. A trilha sonora de uma época que se encontra cada vez mais distante. Uma época de final de ditadura, com um jovem militante com pouco estudo, que acreditava em uma sociedade igualitária e uma jovem recém-chegada a uma pequena cidade, começando vida nova e ávida por diversão.
Assim acredito ou imagino. O pouco que penso saber deles talvez revele o pouco que sei explicar de mim. Não enxergo no espelho as semelhanças físicas que dizem eu ter.
Boleros, a velha vitrolinha. Chego a escutar o chiado da agulha no disco de historinhas infantis que haviam comprado para mim.
Como foi aquele natal? Recupero pedaços de minha história em conversas familiares fugazes. “Ah! Isso era típico de sua mãe” – dizem com uma familiaridade que desconheço às vezes.
Sou um estrangeiro em minhas lembranças, um mal explorador de minha história pessoal cuja timidez e medo, impede que meus mitos sejam destruídos.
Tenho medo de esquecer. De ser o último receptáculo de lembranças que se esvaem como grãos de areia pela minha mão aberta.
Só mais um grão de areia na praia.
Arrastado pelas ondas do esquecimento.
quinta-feira, janeiro 08, 2009
As aventras de um marido intrépido aventureiro da vida cotidiana contra a ditadura da moda
E lá estávamos nós pelos corredores da Riachuello, um jovem casal a procura de roupas para pessoas normais.
Em meio a enxurrada de mulheres que transitava, em meio as roupas femininas estava eu tentando achar com minha esposa uma roupa que pudesse caber em uma mulher adulta e não em uma menina de 12 anos ou uma anoréxica. Minha viagem de tantos anos pelo universo feminino, começados na faculdade, não tinha como escapar de uma loja de roupas.
E eu, intrépido aventureiro da vida cotidiana aprendia a matemática dos manequins, suas somas e subtrações.
Aprendi sobre os efeitos psicológicos dos números dos manequins sobre as mulheres, não só pela minha esposa, mas por todas ao meu redor. Aprendi sobre a falta de respeito com o corpo da brasileira e suas curvas.
Realmente vivemos numa ditadura do corpo. Consumidos por um modelo que nunca conseguiremos ter. Um corpo moldado, sem vida, obrigatoriamente branco, de olhos claros, bocas carnudas, seios fartos, sem estrias e celulites; e, se por acaso for negro, que tenha os cabelos lisos por químicas de formol e tenha traços europeus.
Eu não sou mulher, mas sei bem como é estar fora dos padrões. Dos meus mais de 1,90 de altura ralo pra achar roupas que não se assemelhem a sacos de batatas, calcas que tenham a extensão das minhas pernas, mas não se assemelhem a calças de palhaços e sapatos que cheguem aos 44 ou 45 sem me deixarem mais anormal do que já sou.
Mas isso é um problema meu. Voltemos as mulheres.
Mas o que o marido, intrépido aventureiro da vida cotidiana, poderia fazer diante do enorme monstro invisível que penetra em nossas cabeças e nos cega diante do absurdo que é encontrar um manequim 40, quando na verde ele não passa dos 36? Ou das calças em que os manequins crescem inversamente proporcional ao tamanho e comprimento dos tecidos?
O que dizer senão que esse monstro invisível não gosta das mulheres, do seu corpo, não as compreende? Pelo menos não como eu. Ele não sabe nada sobre as delicias imperfeições do corpo da mulher, cada imperfeição que torna ela única, que torna seu corpo humano, diferente de um manequim de loja, os volume a mais, a textura, as diferentes texturas de cabelo, o cheiro...
Só sendo um monstro ou um alienado para não perceber a beleza por detrás de cada corpo, cada curva ou volume, mas para além disso, a mulher em si. A mulher, um camaleão humano, sempre em transformação:filha, irmã, mãe, avó. Da fiel dona do lar às executivas em sucedidas, das viciadas em chocolates às viciadas nas dietas da lua e dos chás verdes, das misteriosas às mais misteriosas.
Abraço-a e digo que não haveria quem eu pudesse desejar mais nesse mundo, ela era real.
Lhe dou um beijo em meio a milhares de transeuntes, eu, em meus 1,90 de altura todo desengonçado e a mulher mais bela do mundo.