segunda-feira, setembro 08, 2008

Beija-flores, descobertas e casamentos

Esses dias um beija-flor veio constantemente ao segundo andar do apartamento da minha esposa desfiar as pontas da rede do meu pai que agora é minha...
Por muitos momentos ficava a olhar ele (ou ela), encher a boca com os fiapos da rede, formando uma barba branca em seu longo bico...
- Ele deve estar pegando os fiapos pro ninho dele, para os filhotinhos – dizia ela, rindo enquanto eu ficava preocupado com a rede que agora era minha.
Finalmente eu vou construir um ninho também... Talvez, na verdade esteja só a ponto de oficializar esse ninho que tenho e chamá-lo de meu também.
Casar de papel passado, com direito a (argh) igreja e sogros velhinhos e simpáticos. De terno, gravata, allstar e suspensórios, estou caminhando para mais uma das minhas mudanças, mas uma mudança que pude escolher, e como pude escolher.
Caminho para uma mudança feita de coração, voltada para a felicidade. Voltada para a cumplicidade, de ser dois com jeitos, temperamentos e visões de mundo diferentes, e não uma massa disforme de duas pessoas que perdem suas identidades e não sabem onde um começa e onde termina o outro.
Caminho, não com o coração de um apaixonado cego, ávido por amor incondicional e pela sensação de posse do outro, jogando suas expectativas de felicidade nas costas do outro, mas talvez como um romântico incurável, que sabe das limitações do outro e de suas próprias, e mesmo assim não deixa de se apaixonar diariamente não só pela sua mulher, mas por tudo que o rodeia.
Não quero um conto de fadas, como talvez possa se pensar de um casamento “oficial”, ou como fui questionado sobre as certezas de uma de viver a dois. Estou mais para “a vida como ela é”, e ela é pra mim algo que está sempre para se descobrir, uma cruzada para mais além, um momento de sabores e de dissabores, de leituras e práticas e antes de tudo de sentimentos.
Minhas tardes quentes nos outonos da vida estão menos solitárias, mais cheias de sorrisos e claro, como isso é vida real, de discussões, de brigas e de reconciliações. Ah! As reconciliações, tão deliciosas que dá vontade de brigar novamente.
Se tem algo que aprendi é que muitas vezes isso de nada vale se não aprendemos algo imprescindível (pela qual uma amiga minha trava uma cruzada feminista para que todas entendam), que nada disso adianta se não há amor próprio, se não há o gostar de si.
Gostar de si. Poderia me ouvir falar disso sob uma ótica totalmente diferente a mais de meia década atrás. Talvez esse tenha sido um dos maiores presentes desse blog para mim (além dos amigos inusitados e ímpares que descobri por aqui), ter a oportunidade de aprender comigo mesmo, de me desejar, de me despertar um afeto que antes era totalmente desconhecido por mim mesmo e que hoje se torna um tesão, uma paixão e um amor condensado.
Estou feliz, assim como estarei triste, bravo, solidário, condescendente.... em busca de redenção.

De vez em quando o beija-flor aporta na varanda e vem desfiar a rede antiga.
- Vou comprar um daqueles potes em forma de flor, que se pões água açucarada para o beija-flor se alimentar – me pego pensando de vez em quando.
Venha tomar uma garapinha meu amigo, e vamos bater um papinho sobre nossos ninhos e, quem sabe, marcar um encontro de casais. Pode trazer seus filhotes também pra conhecer a gente, adoramos crianças.
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