segunda-feira, dezembro 22, 2008

Resenha: A parte obscura de nós mesmos: Uma história dos perversos - Elisabeth Roudinesco


Justamente em clima de Natal, e possivelmente o último post do ano, venho fazer um release de um ótimo livro que estou lendo.
Um livro que fala da nossa história oculta, do nosso ser que tentamos deixar a todo custo em nossas trevas.
Estou lendo um livro sobre a história dos perversos.
De Elisabeth Roudinesco, “A Parte Obscura de Nós Mesmos - uma História dos Perversos”, é um retrato sublime de como a perversão fora encarada no decorrer dos séculos até ser caracterizada em personalidade e suas facetas sexuais, passando pelos santos católicos e seus martírios, pela lenda do Barba Azul, pela magnífica produção do Marquês de Sade e seu olhar iluminista, ao nazismo e as transformações sociais atuais.
Um livro para se deleitar com os maiores horrores e blasfêmias que a nossa condição humana pode produzir. Um livro para lamber os dedos e a ponta do chicote.
Enfim, feliz Natal a todos, ou seja, a mim, já que ultimamente sou o único que me lê ultimamente.
Sim, sim. Que o bom gosto continue e melhore no ano que vem.

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Textos perdidos de Natais e agradecimentos




Fico em silêncio por mais de 30 minutos na frente do computador...
Trinta longos minutos em frente a tela branca sem ter o que escrever depois de ter apagado acidentalmente o texto que seria o predecessor deste ...
Vazio... assim me sinto... como se todos os sentimentos fossem depositados em algo que já não existe mais. Toda a poética, todas as revisões, as alusões, o preparo para olhos alheios e sem pudor, tudo para nada.
Só para meus olhos calejados de ler o óbvio sobre mim...
A única coisa que sobrou daquele texto fora a foto que tirei do pequeno inseto que caminhava na tela do computador, que acabou por registrar um pequeno pedalo de texto que agora se perde de seu sentido, do meu sentido.
Sinto vazio ao escrever, mesmo ao escutar Smiths agora, mesmo a meia-noite e doze, enquanto escrevo. Um texto que falava de agradecer, um texto que falava do meu imergir em mim.
Meu
Eu
Meu
Eu
Eu
Meu
Chega.
É tempo de agradecer.
Tempo de saber ir para coxia e ver a beleza dos coadjuvantes de nossas vidas, e aprender a ser coadjuvante na vida dos outros.
Aliás, todos somos atores principais, até mesmo na vida dos outros, nem que por breves momentos, mas talvez devêssemos exercitar um pouco nossas figurações.
Quero beijos e sorvetes de flocos.
Nem lembro mais daquele texto e escuto a TV da sala ligada enquanto eu escrevo na escuridão, sob a luz do computador, que faz sombras nas teclas que insisto em bater após perder meu outro texto.
Tenho saudades de todos, e tenho mais cartas prontas em minha mente. Prontas para correr o mundo em busca dos meus amigos. Quero todos comigo em minhas tardes quentes de outono.
Quero agradecer a todos que passam na rua, tirando meu chapéu para os senhores e as jovens senhoritas enquanto caminho com minha bengala ao lado de minha esposa.
A primavera se foi, nossa primeira primavera. Que venham as estações, minhas emoções nunca fora sazonais.
Que venham as estações! Eu ordeno.
Caminhemos juntos pelo saboroso prazer de descobrir, de nos descobrir, de nos despir do medo de nos descobrir.
Tiro meu chapéu e agradeço a todos que passam.
Feliz natal digo a todos, como se de repente fosse o velho Scrooge, do conto de Dickens, após ver todos os fantasmas dos natais...
Caminho sorridente, tiro meu chapéu novamente e paro diante de você. Levemente faço uma referência olhando em seus olhos.

Obrigado e feliz Natal.



Trilha sonora:


sábado, novembro 08, 2008

Livros e cartas e justificativas



Justificativas


A nova vida de servidor público me deixou um pouco afastado desse meu cantinho, que agora retomo um pouco envergonhado de escrever e meio enferrujado das palavras...


Livros e as cartas


Nesses últimos meses tive três companheiros queridos comigo: Rainer Maria Rilke, Friedrich Nietzsche e Arthur Schopenhauer. Três alemães dispares, que andam me ensinando formas diferentes de ver as mesmas coisas de sempre. Um se tornou meu irmão, um meu algoz e outro um guru.

Tenho tido conselhos sobre a escrita através das cartas de Rilke, assim como tenho tentado acompanhar os passos de Zaratustra.

Minha compulsão pela leitura não tem tido limites nesses últimos anos, e tenho me enchido das experiências de tudo, do todo estou grávido.

Estou grávido de uma nota musical, das palavras que têm buscado irem para bem longe de mim, nas cartas que tenho enviado.

Tenho sido avaro com cada boa sensação que tenho tido, me vendo longe daquele mesmo eu que deixava as pequenas felicidades escorrer pelos dedos abertos... Hoje minha felicidade segue pelos correios, dando olás e como vais? por ai, ávido pelas noticias, esperando pelas respostas.

Hoje me dou mais respostas e aguardo pacientemente as respostas alheias, que já não mais são alheias a mim.

Escuto um velho álbum de Cartola e cantarolo velhos sambas doces desse grande senhor. Busco as coisas simples e já não me reclamo das complicadas. Tenho aprendido a amar e até desejar minhas tragédias. Sou meu espelho avesso, e vejo mais que o reflexo de mim.

Vejo um mundo por descobrir.

Um mundo pelo qual viajo por meio das minhas cartas...

segunda-feira, setembro 08, 2008

Beija-flores, descobertas e casamentos

Esses dias um beija-flor veio constantemente ao segundo andar do apartamento da minha esposa desfiar as pontas da rede do meu pai que agora é minha...
Por muitos momentos ficava a olhar ele (ou ela), encher a boca com os fiapos da rede, formando uma barba branca em seu longo bico...
- Ele deve estar pegando os fiapos pro ninho dele, para os filhotinhos – dizia ela, rindo enquanto eu ficava preocupado com a rede que agora era minha.
Finalmente eu vou construir um ninho também... Talvez, na verdade esteja só a ponto de oficializar esse ninho que tenho e chamá-lo de meu também.
Casar de papel passado, com direito a (argh) igreja e sogros velhinhos e simpáticos. De terno, gravata, allstar e suspensórios, estou caminhando para mais uma das minhas mudanças, mas uma mudança que pude escolher, e como pude escolher.
Caminho para uma mudança feita de coração, voltada para a felicidade. Voltada para a cumplicidade, de ser dois com jeitos, temperamentos e visões de mundo diferentes, e não uma massa disforme de duas pessoas que perdem suas identidades e não sabem onde um começa e onde termina o outro.
Caminho, não com o coração de um apaixonado cego, ávido por amor incondicional e pela sensação de posse do outro, jogando suas expectativas de felicidade nas costas do outro, mas talvez como um romântico incurável, que sabe das limitações do outro e de suas próprias, e mesmo assim não deixa de se apaixonar diariamente não só pela sua mulher, mas por tudo que o rodeia.
Não quero um conto de fadas, como talvez possa se pensar de um casamento “oficial”, ou como fui questionado sobre as certezas de uma de viver a dois. Estou mais para “a vida como ela é”, e ela é pra mim algo que está sempre para se descobrir, uma cruzada para mais além, um momento de sabores e de dissabores, de leituras e práticas e antes de tudo de sentimentos.
Minhas tardes quentes nos outonos da vida estão menos solitárias, mais cheias de sorrisos e claro, como isso é vida real, de discussões, de brigas e de reconciliações. Ah! As reconciliações, tão deliciosas que dá vontade de brigar novamente.
Se tem algo que aprendi é que muitas vezes isso de nada vale se não aprendemos algo imprescindível (pela qual uma amiga minha trava uma cruzada feminista para que todas entendam), que nada disso adianta se não há amor próprio, se não há o gostar de si.
Gostar de si. Poderia me ouvir falar disso sob uma ótica totalmente diferente a mais de meia década atrás. Talvez esse tenha sido um dos maiores presentes desse blog para mim (além dos amigos inusitados e ímpares que descobri por aqui), ter a oportunidade de aprender comigo mesmo, de me desejar, de me despertar um afeto que antes era totalmente desconhecido por mim mesmo e que hoje se torna um tesão, uma paixão e um amor condensado.
Estou feliz, assim como estarei triste, bravo, solidário, condescendente.... em busca de redenção.

De vez em quando o beija-flor aporta na varanda e vem desfiar a rede antiga.
- Vou comprar um daqueles potes em forma de flor, que se pões água açucarada para o beija-flor se alimentar – me pego pensando de vez em quando.
Venha tomar uma garapinha meu amigo, e vamos bater um papinho sobre nossos ninhos e, quem sabe, marcar um encontro de casais. Pode trazer seus filhotes também pra conhecer a gente, adoramos crianças.

quinta-feira, agosto 21, 2008

Mamãe e o sentido da vida



Quando estamos nos sonhos dos outros?
E quando os outros estão em nossos sonhos?...
Já não sonho a um bom tempo com ela. E se sonho, já não lembro que sonho mais.
Me lembrei de quando era menino, e de como o sentido da vida era trivial. Hoje esse sentido se perde da miríade de estrelas que as nuvens de chuva das noites de agosto teimam em esconder.

segunda-feira, agosto 11, 2008

Dia dos pais









































Espero que ainda não seja tarde pra desejar feliz dias dos pais.
Ah sim, e mande um alô para os coelhos também..

domingo, agosto 10, 2008

Pecados

A tentação de Santo Antônio - óleo sobre tela,1946 - Salvador Dali














De repente é como se durante esses dias eu estivesse no limbo...

Gastando uma energia imensa em nada, nada que pudesse ser compreendido, nas confissões da noite feitas por eles. E eu, feito um padre que escuta o pecado por detrás das pequenas grades de palha, não tinha como absolver ninguém, nem a mim.

Meus pecados eram piores, piores por não se sobrepor aos de ninguém, por não terem nada de “minha culpa, minha máxima culpa”.

Eu escutava seus pecados e tentava dar orientações, como alguém que nunca fui. Parecíamos uma família russa em um drama típico de Dostoiévski.

Os irmãos Karamazov, diriam alguns. Não. Assassinatos, não. Assassinos não.

Cada um contando de seus males e arrependimentos.

E por um único instante pareciam se reconhecer, e entender da dor do outro. Os irmãos apenas se entreolhavam em um silencio mais esclarecedor do que meras palavras.

Algo entre as sombras parecia ir de encontro a uma luz de vela naquela noite de agosto.

quinta-feira, agosto 07, 2008

O pássaro e a abelha (indicações musicais)

Ando me perdendo ultimamente no som do The Bird and The Bee, banda formada em 2006 pela cantora Inara George (que em certos momentos tem um timbre meio Bjork) e o multi instrumentista Greg Kurstin.
Ambos unem, jazz, bossa nova, pop, com melodias deliciosas e bem trabalhadas. Segundo os próprios integrantes o som deles é algo como "A futuristic 1960's American film set in Brazil...".
O som deles tem sido meu mantra dos últimos dias, entoados com alegria para as chuvas de agosto que insistem em se prolongar este ano.
Um som que me traz paz e que queria compartilhar com vocês.



Trilha Sonora:

Again and again


Im a broken heart




A partir de hoje quem se interessar pode acessar o site deles apartir da listinha de sites do blog.

domingo, agosto 03, 2008

Sentimentos

Ele pensava que de repente poderia criar asas e sair voando pelo bairro dando tchau para todos, indo de encontro ao horizonte.

Pensava que comer jabuticaba ajudava contra azia e que em algum lugar do nordeste haviam serras feitas de rapadura e lagos de leite.

Por vezes dizia que foi neto de lampião e que um dia sonhou que estava do lado de dentro de sua casa e olhava pelas grades um estranho que estava sentado no seu quintal, com seu chapéu de couro de bode, rodeado de crianças, e que olhava fixamente pra ele com um olhar diabólico.

A biblioteca do mundo servia de residência para ele. Tinha a barba de Machado, os cabelos de Poe e andava estranho como Lovecraft. Se vestia como Drummond e quando se olhava no espelho, tinha a aparência de Lispector.

Quando cantava emitia sons de bem-te-vi e se tocava, lembrava das músicas de Chico e Vinícius.

Se soltava um pum, ria como uma criança trelosa e sem vergonha.

Sua pele era feita de lembranças e se alimentava de sonhos.

Quando tudo terminava, era sempre quem arrumava as cadeiras em cima das mesas e apagava a luz.

Os sentimentos saiam pela fumaça do cigarro naquela noite de setembro.

quarta-feira, julho 30, 2008

Notícias


Bem...
Depois de semanas corridas de preparação e expectativa, eis que chegou o dia. E eis que esse dia já foi a 4 dias.
Um lindo fim de tarde com amigos, apresentações, um pouquinho de vergonha do palco e muito a ser compartilhado.
Estou feliz, e novos projetos já foram iniciados.
Enquanto preparo os novos textos do tardes quentes convido a todos a darem uma passeada pelo site do grupo do qual meu autor participa.
Lá vocês poderão encontrar fotos da divulgação na livraria, clipes e as propostas do grupo, assim como material exclusivo que podem ser adquiridos.
Estão todos convidados.

http://grupoartesa.blogspot.com

quarta-feira, julho 09, 2008

Notícias e convites




Após alguns contos, voltemos à realidade (pelo menos não a minha realidade fictícia).
Das novidade que já não trago muito ultimamente, tenho a felicidade de informar que meu autor está a todo vapor na produção de um livrinho infantil independente, parceria dele e do Castor Luiz. Livrinho com direito a lançamento em livraria, apresentação com violão e teclado, historinha ao vivo e pintado a mão separadamente.
Pra quem tiver interesse, convido todos para o lançamento do livrinho no dia 26 de julho (sábado), às 17h no auditório da Livraria Cultura em Recife, na Rua Madre de Deus s/n (do Lado do Paço Alfândega) no Recife Antigo.
Eu estarei lá com certeza. =]

terça-feira, julho 08, 2008

Sessão contos antigos - "A canção da madrugada (asas azuis)"



A trinta anos atrás, quando o mundo ainda era mundo, antes dos muros caírem, antes de esquecermos quem somos, um passarinho azul pousou em meu ombro.
Ele ficou ao meu lado durante três anos, e depois de termos ficado amigos, em uma madrugada clara, com uma bicada forte ele roubou meu olho e saiu voando. Eu ainda podia ver os nervos do meu globo ocular saindo do bico do pássaro que se afastava rapidamente naquela madrugada clara.
Bandido.
O procurei por dez anos, tentando achar o meu olho roubado, tendo como última visão suas asas azuis e os pingos de sangue que caiam como pingos de chuva no chão. Só o encontrei do décimo terceiro ano da minha procura. Meu olho se situava na barriga de um peixe cordial que havia pescado.
Disse-me que o pássaro azul havia morrido logo aos negociar meu olho por um grão de areia do fundo do oceano com ele. Pedi então para que me devolvesse o olho, implorei muito. Mas o peixe cordial se negava a entregá-lo e olhava para mim.
Olhava bem para o meu rosto, para a cavidade ocular exposta e para o tapa-olho que cobria meu olho bom.
Perguntou-me:
- Por que você cobre o olho bom e vez do outro que foi arrancado? Por que andas por ai esse tempo todo como um cego? Poderia viver muito bem sem o outro olho.
Então lê respondi prontamente que havia preservado a visão do outro olho para que ele não visse coisas a mais nem diferentes da do olho roubado. Permaneci cego para que quando finalmente achasse meu outro olho, eles pudessem enxergar o mundo juntos. Imagine um lho que vê o mundo de antigamente e outro que enxerga o mundo de hoje.
Pedi que acabasse com meu sofrimento e me devolvesse o olho roubado. Então o peixe cordial o devolveu e o coloquei novamente no lugar.
Quando abri os dois olhos me arrependi profundamente de ter abandonado minha escuridão.
O mundo não era mais o mundo, não haviam mais ciprestes e pinheiros, apenas cidades de concreto vazias, com uma atmosfera esverdeada e corpos de pessoas caídas no chão claramente em estado de putrefação. Autofalantes proferiam um discurso militar em uma língua estranha e vultos passavam rapidamente entre os becos dos prédios destruídos pela explosão.
Então chorando, voltei meus olhos para o peixe cordial. Queria saber o que tinha acontecido ao meu mundo. Eis que o que via na minha frente não era um peixe, mas sim uma raposa risonha, que dava gargalhadas de minhas lágrimas, me dizendo:
- Esse mundo não é seu, mas era que você procurava seu cego tolo.
Com raiva arranquei meus dois olhos enquanto o sangue escorria pela minha face, rubro, extremamente rubro.
Peguei o peixe cordial e o comi, enquanto ele gritava e pedia piedade. Peguei sua pequena cartola, pus meus olhos no chão e pisei neles com força sentindo o líquido aquoso que ficava dentro deles molhar meus pés calejados. Podia sentir como eles eram gelatinosos e quentes.
Retirei minha roupa ensangüentada, abri mus braços e deixei as penas azuis crescerem. Então com meu bico, comi s resto dos nervos dos olhos espatifados no chão, pegava-os com minhas pequenas patas e comia-os com desespero.
Pus minha cartola e voei cego por entre os ciprestes e os pinheiros...
Voei até pousar cansado em um galho macio, que logo descobri ser o ombro de alguém. Alguém que fiquei amigo em menos de três anos , alguém do qual o sangue eu provei ao bater as asas durante uma madrugada clara e fria, levando em meu bico algo gelatinoso, quente, fibroso, algo que desconheço o que seja agora, mas que estranhamente eu sinto que irá matar essa pessoa que gosto.
Então abro mais minhas asas azuis e vôo rapidamente para longe. Mas não vejo para onde. Nunca vejo.
Sou um pássaro cego afinal.

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Texto antigo (dos idos de 2005), quando o TQO ainda se hospedava no terra.
Saudades de textos antigos... ando revisando alguns
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