quarta-feira, abril 30, 2014

Resenha: Carrie, a estranha - Stephen King


Para fechar o mês, estou postando a primeira de (espero) muitas resenhas de livros legais, que li e gostaria de indicar. Essas resenhas serão muito mais pessoais do que pretensamente acadêmicas, porque já basta das pretensas identidades nas quais nos travestimos no dia-a-dia. Espero que gostem.


Carrie

Esse livro foi um dos livros da minha adolescência, dessa entrada na vida adulta da qual você ainda mantém laços com as fantasias e terrores de uma época breve, mas que ainda mantém seus restos no nosso imaginário.
Foi o livro de estreia do Stephen King, em 1974, que conta a história de Carrie White, aluna do secundário de um colégio o Maine, filha de uma mãe fundamentalista religiosa, que descobre ter poderes telecinéticos em meio ao turbilhão de emoções, vindas na adolescência.
O livro tem uma linha cronológica póstuma, uma vez que usa trechos de documentos (ficcionais) sobre o “Caso White” para estruturar o enredo, que será recontado no preenchimento dessas lacunas, trazendo os pormenores e motivações dos personagens.
Carrie sofre diversas perseguições e humilhações por ser diferente, por não se encaixar nos padrões sociais de um colégio dos anos 70. Sua entrada tardia na puberdade, as pressões sofridas no colégio e no interior de sua própria casa acabam por desencadear o horror.
Carrie. O li durante as férias de janeiro, ao som de “Clarisse” da Legião Urbana, que coincidentemente casou com a temática do livro. Era um livro que também falava sobre mim, salvo todas as devidas referências à ficção científica e ao feminino.
Era um livro sobre o horror, o horror que desencadeia o horror. Pobre Carrie que, sendo a assassina, foi a que mais sofreu; que sua telecinesia nunca fora páreo para os olhares indiferentes, os risos de escarnio; que o horror vinha dos jovens, perfeitos, angelicalmente sádicos.
Revisitando-o, anos mais tarde, já adulto, me deparei com uma breve introdução do próprio autor sobre o motivo que o levou a escrever esse, que seria apenas um conto para ter grana para comprar fraldas. Ele o escreveu para duas meninas, as quais ele conheceu em sua infância, as quais foram vítimas do mesmo horror presente no seu livro. Elas, as quais ele não revela os nomes verdadeiros, não chegaram a tornarem-se adultas, ambas suicidaram-se jovens em anos diferentes.
Um livro que mostra o horror dos normais, o horror dos que sofrem e que também machucam. Um horror que nos convida a pensar e sentir.



quarta-feira, abril 23, 2014

Poesia (*por Nicole Nicolela)




Quero o silêncio do vão
Quebro o silêncio de ir
Quieto, o dispêndio do são
Pousa nos galhos do sol

Mas quer o silêncio do vão
E quer a calma de ser
Desce aos escombros do chão
Da terra em que não vai nascer.





*Nicole Nicolela é escritora do blog “Know My Poetry, Know Me” e esse foi o único poema, belo poema, já publicado no Tardes Quentes de Outono.

quarta-feira, abril 16, 2014

Meu amigo super-herói (*por Luiz Marcelo Oliveira)




Carcaju é o animal do Wolverine. 

Foi ele que me contou e assim o batizei.

Amigo de verdade. Que a gente confia, abre o peito e navega o Recife Velho. Costeletas fortes, cabelos compridos e olhos de abraço.   

- De agora em diante vou te chamar de caju!

No íntimo éramos dois jovens alegres e curiós. Mas havia o compromisso com as estórias tristes. E por costume e paixão a gente se vestia de dor. Nunca vi homem tão doce. Por que se esforçava triste? Tem agressividade no coração dele? Tem nada. No meu é que tinha. 

Foi ele que me apresentou os super-heróis. Gibi não era coisa de criança? Eita mania estranha de querer ser adulto por fora. Caju também tinha identidade secreta. Acolheu meus lamentos como um jardim aquecido que a nada se opõe. Fantástico superpoder. O resto não conto porque todo herói precisa de zelo.

Vi meu amigo cicatrizar machucões impossíveis. Wolverine.

Quanta força num semblante meigo!

Esse coração quente de outono é pra mim um refúgio. Brisa terna. Ele me sorri sem afetação: calmo e pleno. É quando sei que nada me falta. Preciso só recolher minha pressa, meu obcecado desejo de mudar o mundo e simplesmente tomar um chá com meu amigo. É uma tarde nublada. A gente até gosta do beijo gélido da boca do vento. Ficamos em silêncio. Alguém invisível nos traz a confiança serena de que tudo vai bem.





*Luiz Marcelo Oliveira é psicólogo, músico e escritor do blog “Um Curso em Milagres – Brasil”, além de um Superamigo




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