domingo, abril 23, 2017

Buda nagô



José das quartas-feiras, santo homem, com quem um dia me encontrei. 
Tinha um olhar ferino e respirava como quem reza uma novena. Andava pela feira livre, comprava sacos de castanha, carne, verduras. 
Sorria, perdendo os paços de boteco em boteco e ruas porque andou. Previa as chuvas. 
Vestia um terno branco nas quartas-feiras e saia elegante a dar conselhos. 
Uma vez disse-me que todos somos presas de nossos desejos e que a elegância era uma roupa que se levava anos para se vestir. 
Ria-se todinho. Riso gostoso de se ouvir. Buda nagô, filho da casa real. Muito me ensinou. 

sexta-feira, abril 21, 2017

A menina que alimentava os pássaros

Olho a menina que alimenta os pássaros. Jogando migalhas do miolo do pão que sobrou do café da manhã. 
Ela ri com os olhos, dizendo que os pássaros são bobos. 
Eu olho seus olhos. Guardo seus olhos na memória, como guardo o cheiro do sal da praia. 
Fecho meus olhos, encontro os dela. 
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