segunda-feira, abril 21, 2008

Aniversário

Bem...
Mais um ano de Tardes Quentes de Outono. Mais uma reflexão anual de tudo que sempre procuro refletir diariamente...
De 4 anos pra cá muita coisa mudou, não só a minha forma de escrever. Quem voz escreve não é mais o mesmo a muito tempo, e hoje sou menos o mesmo que pensava que escrever era apenas um exercício de desabafo.
De jovem recém ingresso na faculdade a um jovem adulto recém formado, a procura de emprego e praticamente casado, há um abismo que já não tenho coragem de olhar para ver se vejo seu fundo.
Das mortes, dos choros, dos desamores, das inseguranças procuro levar as lições agora. Tenho me sentido cansado de ter o coração negro como piche de tanto carregar as amarguras, e mesmo assim ainda me prendo com mesquinhes às pequenas coisas que me fazem sofrer. Tento ser mais leve, e até minha esposa se esforça em reconhecer minhas mudanças.
Não tiro mais fotografias como antes, e escrevo cada vez menos. Respiro a loucura diária da procura de emprego, das preocupações com as contas e da falta que entes queridos me fazem. Já não tenho os cabelos que me caiam pelos ombros, indo ao meio das costas e já não tenho as crises de depressão que tinha antigamente. Hoje vivo em momentos de uma doce melancolia, que cada vez mais me apaixona.
Minhas tardes quentes sobreviveram. Deus! Quem diria que esse espaço faria 4 anos, nem todos mosquitos da dengue hemorrágica parecem ameaçar minha criança de 4 anos. Sim, minha criança de humor próprio, de vida própria que já corta seus cordões umbilicais com seu criador... Algumas vezes chego a pensar que mesmo se eu fosse encontrado com a cabeça estourada em plena cozinha em um sábado pela manhã, haveriam tanta produção de posts quanto agora.
Humores negros a parte, sopro todas as suas 4 velas de aniversários e a dos 40 aniversários que ainda não fiz.
Entre um café forte e um cigarro as linhas que vejo adiante dão reviravoltas incansáveis e dessas linhas-da-vida que vejo em minhas mãos poucas são as constantes... meus alicerces estão nas pessoas que amo, sempre estiveram.
Sempre esqueço de lembrar de agradecer aos grandes amigos que muitas vezes me foram tudo. Tudo cabe muita coisa, e ainda sobra espaço. Tudo talvez defina meus sentimentos.
Nesse 4 anos de tardes quentes já escrevi sobre coisas engraçadas, poemas, resenhas, contos, recentemente tive a audácia de postar uma música na voz de meu criador. Sempre quis escrever sobre tudo e tudo ao mesmo tempo, mas tudo é muito e logo vou morrer assim que fique velho o suficiente para não processar mais as substâncias orgânicas e inorgânicas que sustente a engrenagem biológica da vida.
Hoje, me lembrei do primeiro aniversário do Tardes. Escrevi o blog tinha uma função e que muitas vezes "...quando eu preciso releio meu passado aqui, meus posts escritos durante as madrugadas... e lembro que ele não está perdido ou esquecido na minha memória, que pude compartilhar ele com outros que não conheço, mas que me conhecem em parte..."
E hoje ao reler meu passado eu tenho a mais plena certeza que o que passou não está esquecido. Dizem que você morre quando a ultima pessoa que se lembra de você acaba por esquece-lo... E eu, por ser um personagem, tenho medo de ser esquecido por quem me escreve... quem vai se lembrar quando eu me for? Quando a minha história enfim terminar e eu não estiver aqui, algo será lembrado?

É estranho não é? Em um post de aniversário, eu acho q falei mais de morte do que em todos os posts desse ano. Talvez seja porque a cada aniversário, assim como a cada capítulo de um livro, temos a certeza de que o fim está chegando. Estou terminando de ler um livro de Kafka. Quando será que eu terei sido lido por completo?
Dessas coisas nós nunca sabemos, não é?
Agora no fim do post eu me sinto melhor... é a vantagem de se estar chegando ao final. Há sempre uma sensação de alívio quando se termina algo.
Acho que vou dar uma volta... você não quer vir comigo? Se você quizer eu posso ficar calado, só quero caminhar nesse fim de tarde com alguém... hoje tenho menos medo da morte do que da solidão.

Obrigado a todos que fizeram desse espaço um lugar habitável para todos os nossos sentimentos.

Trilha Sonora:


(quem souber a letra vai entender a opção desse post)

quinta-feira, abril 17, 2008

Outonos e aniversários




Em breve o Tardes Quentes de Outono completará 4 anos.

O tempo passa rápido e o outono está mais quente a cada ano. Fico pensando no post de aniversário, mas nada me vem à mente. Na verdade haverá o balanço anual de sempre, e como sempre haverá olhares pro passado e expectativas pro futuro. Mas esse não é o momento para analisar, deixe-mos isso para a data magna deste blog.

Pra matar curiosidades (caso existam) sobre o início do blog, deixo alguns trechos de 2 post antigos (na verdade um mega post) de aniversário que podem responder algumas questões.

sexta-feira, 21 de abril de 2006


INTRODUÇÃO

A muito tempo estava querendo falar a respeito dos motivos que me levaram a criar este blog.
No primeiro post eu expliquei, claro, mas nunca expliquei realmente o porquê.
Não que isso seja um mistério, mas é que estava deixando para falar disso no próximo aniversário do por tardes quentes de outono.
Mas então por que estou escrevendo agora?
Unicamente por que eu não sei do futuro, não sei se o blog chegará a fazer seu terceiro aniversário, nem sei se eu estarei postando amanhã.
Então resolvi deixar registrado tudo, ou quase tudo, que influenciou direta ou indiretamente o início do Tardes Quentes de Outono, em quatro partes, quatro capítulos, cada um relacionado a uma característica que está ligada a este blog.


A origem do tardes quentes de outono

Parte I - Influências

Sex, Lies and One Life

Foi por causa desse blog que o Tardes Quentes de Outono nasceu.
Esse blog pertenceu a uma garota que fazia jornalismo. Nele havia os relatos de seus pequenos acontecimentos diários, sua vida com a namorada E., suas opiniões sobre homossexualidade, a vida difícil de uma jovem adulta para poder arranjar um emprego de madrugada enquanto dava um tempo na faculdade, além das pequenas poesias diárias da vida de uma pessoa tão comum quanto nós.
Eu me lembro muito bem...
Havia acabado de entrar na faculdade quando descobri esse blog. E quando chegava em casa a noite, ia naquele pequeno espaço e lia... apenas lia.
Não havia nada de extraordinário naquele blog (talvez fosse por isso que me chamou a atenção), mas o conteúdo bastava por si só, opiniões de uma pessoa que sabia escrever muito bem e traduzir seu cotidiano de forma simples (provavelmente não de propósito).
Eu gostava de sua visão pessoal de seus próprios problemas e suas próprias conquistas.
Aquele blog era especial.
Esse blog, dessa garota (e eu nem sei se devo me referir a ela assim), foi o responsável principal para o início do Tardes Quentes na Wired.


Life is But a Dream (Eu na Chuva)

Este é outro blog que influenciou diretamente na criação do Tardes Quentes de Outono.
Eu o achei em uma madrugada perdida, logo após ler o Sex, Lies and One Life. O que mais me chamou a atenção primeiramente foi o template interativo dele, não havia visto nenhum outro blog como aquele (logo depois descobri que era um blog com estrutura de um site).
Ao contrário do Sex, Lies and One Life o Life is But a Dream (Eu na Chuva), tinha como dono uma garota que fazia veterinária e era viciada em fazer arte no photoshop.
E sobre o que ela falava?
Ela não discorria seu cotidiano em textos grandes e poesias, mas em pequenos textos, observações, vãs filosfias...
Sempre pequenos textos, em sua grande maioria.
Não sei como conseguia resumir tanto em tão pouco.
E foi de grande influência para o início desse espaço...
Era um blog especial, cheio de surpresas, cheio de uma leveza que me faltava naquela época...

Dúvidas

- Porque eu tive como influência dois blogs de mulheres? Poderia ser essa sua dúvida?
Na verdade não sei, acaso talvez... Havia sentimentos neles

- Que influências foram essas afinal? Tipo a estrutura ou forma de escrever, algo assim?
Nunca quis copiar a formas delas se expressarem, embora eu adorasse as diferenças de cada uma. Mas eu estaria mentindo se dissesse que não há elementos deles aqui, claro que há, como a trilha sonora e a minha auto-descrição. Mas a forma de escrever é minha, pessoal. (até porque eu não escrevo bem, nem tenho capacidade de sintetizar as coisas de forma inteligível).


- Esses blogs ainda existem?
Um infelizmente não (Sex, Lies and One Life). Claro que ela pode ter mudado de url, mas eu desconheço algum blog que seja dela... O Life is But a Dream continua firme e forte (você pode encontrar link dele aqui no blog)

Continua...

sábado, 22 de abril de 2006

A origem do Tardes Quentes de Outono
Parte II - A origem do nome

Poucos sabem, mas eu tinha um blog antes desse, na verdade um blog bem diferente deste...
Fiquei menos de um ano com ele, e o encerrei... mas ele ainda existe, perdido por ai, talvez você já até tenha o lido sem saber.
Depois de um tempo sem escrever, e devido aos acontecimentos daquela época, resolvi criar um outro blog.... mas um blog que eu não precisasse ser um idoso, nem morasse em uma casa caindo aos pedaços, ou precisasse voltar cada vez mais para a velha floresta, me perder e encontrar cavaleiros andantes atrás de moinhos de vento...
Algo em que e pudesse ser eu...
mas como se chamaria?

O nome, basicamente veio de um texto que escrevi a alguns anos que relatava uma conversa com uma brisa que passava, enquanto eu estava no terraço da minha casa...
Suas palavras faziam lembrar as tardes de outono da minha cidade, fins de tarde onde pequenas brisas quentes passavam pelo fim da tarde fria.
Parece até uma contradição falar em tardes quentes de outono, que é uma estação fria, mas devido a posição geográfica brasileira, não é nem um pouco de se estranhar...
Esse nome me é muito especial... ele vem das lembranças de um garoto que ficava feito bobo, olhando as folhas que caiam de algumas árvores e faziam um tapete de folhas no chão da rua por onde ele passava, um garoto que esperava os pores-do-sol que tingiam a cidade de um dourado que nunca poderia descrever em palavras...
Tudo
que temos são nossas lembranças, lembranças de uma vida simples, muito antes de todas as tragédias e dificuldades que hoje destoam dessas lembranças...

E são nessas lembranças que constam a origem do Tardes Quentes de Outono...



Ta bom de passados não é?

quinta-feira, abril 03, 2008

Em Busca do Tempo Perdido




























Capítulo 5 – Família. A volta pra casa. Fim.

Meus últimos dias na ilha passei com tios e primos que a certo tempo não via. Esses poucos dias foram dias de festa. Festa não só pela comida e bebida, mas também pela sensação de euforia que tomava conta de nós a cada momento.
Euforia silenciosa.
Euforia silenciosa de ver as novas gerações brincado, a geração que estão na iminência de chegar, e rir com elas, desejá-las futuros melhores, vidas melhores.
A ilha de certa forma se transformara em mim. Eu que temia (o que, eu temia?), encontrei um lugar entre a realidade as lembranças...
Mesmo estando lá, tinha sensações de momentos muito antigos, o cheiro me despertava, o calor me lembrava... Fiz questão de percorrer solitário o caminho que dava na antiga casa de meu avô, só para me lembrar das ruas, para passar na frente de sua casa e me lembrar de que éramos muito mais, mais que meras pessoas juntas, uma família.
Minha angústia se traduzia por uma leve falta de ar, de tanto ar que eu agora inspirava.
Essa falta de ar me foi companheira na viagem de volta a cidade velha. As chuvas eram menos torrenciais... a noite se mostrava mais branda.
A ilha ainda estava na minha cabeça nos poucos dias que se seguiram a volta. Então pensei em escrever sobre a ilha, pensei no título a partir de Proust e comecei a escrever. Escrevi sobre os acontecimentos da ilha em torno de cinco pequenos capítulos, finalizando ao contar sobre como decidi escrever esse texto a partir de uma viagem a minha ilha natal, e agora vejo a mim mesmo de frente a tela do computador, escrevendo sobre meu ato de escrever em uma espiral sem fim.
Sem fim todas as histórias são, e de infinitos capítulos a nossa vida é. Agora talvez compreenda porque Clarisse Lispector não usava capítulos e porque de vez em quando me via perdido em meio as suas páginas.
Hoje me perco e me encontro dentro de minhas próprias páginas... mas para esse relato tem que haver um fim.
Este ano o outono chegou para mim, e dele guardo as suas tardes quentes de ruas cobertas de folhas secas e de árvores em flor, como só um outono tropical pode me dar.

Fim

terça-feira, abril 01, 2008

In Search of Lost Time














(O Semeador - Van Gogh, 1888)

Capítulo 3
O primeiro dia.

De certa forma me vi forçado a resolver assuntos burocráticos aos quais também fui mandando. Em uma manhã “resolvi” todas as pendências que exigiam minha atenção naquele momento.

Tinha pressa em tudo, pressa de terminar, pressa de voltar, pressa de que? De ficar? De saborear os dias que me restavam sem ter que ir de repartição em repartição pública, procurar documentos?

Não sei, mas uma ânsia pelo que viria a tarde eu tinha. Francine havia me ligado durante o dia dizendo que faríamos um tour com um guia local pelas usinas da ilha.

Na hora marcada estávamos seguindo para as usinas. Paramos antes em um monumento erguido em bronze a partir de um poema de Castro Alves, o mesmo monumento que a poucas décadas eu visitava constantemente e acabava por ter sempre na ponta da língua o poema ao qual se referia. Meus sentimentos pareciam ser de bronze.

A mesma coisa foram as usinas, meus sentimentos de concreto, de pedra, de água, de eletricidade, se moldavam com as árvores em flor, com a vegetação agreste que tomava conta do complexo das usinas de minha vida, das usinas que produziam tragédias e conquistas, dor e redenção...

Por algumas horas fui alguém a muito esquecido.


Capítulo 4 – Caminhadas

No fim da tarde, enquanto Francine e sua mãe dormiam no hotel, eu saí para caminhar.

Passei por alguns bairros de minha infância, olhei as casas de velhos colegas que já não mais existiam, olhei a velha escola onde minha mãe lecionava quando jovem e onde estudei boa parte de minha vida na ilha.

Desci a estréia ladeira que dava para minha casa na vila de trabalhadores, me lembrando do percurso que fazia sempre que voltava da escola durante a semana ou quando ia para as aulas de catecismo aos 8 anos.

O fim da tarde vinha calmo ao ritmo de meus passos, que deixavam de ser largos à medida que voltava no tempo. Então parei diante da casa.

A casa estava fechada, como sempre estivera desde que fui embora da ilha. Olhava pelas frestas do portão de ferro, desgastado pelo tempo, e via o interior cheio de mato, paredes com cupins, entulhos pelo quintal no qual costumava brincar com meu irmão mais novo.

Toquei a campainha da vizinha, que não via a anos. Ela não me reconheceu de imediato, estava mais velho, com barba por fazer. Dei-me conta de como estava velho ao vê-la. Lembrava-me dela muito mais jovem, conversando com minha mãe por cima do muro que separavam nossas casas.

Trocamos boas lembranças, e nos recordamos de bons momentos. Ela me contou que sonhara com meu pai uma semana atrás, disse que ele havia chegado para conversar com ela em um fim de tarde exatamente como este em que estávamos. Tentava se lembrar a todo custo o que haviam conversado, como se me devesse algum recado dele, e que após acordar ascendeu uma vela para ele. A simpática senhora fazia questão de dizer que não esquecia da gente em suas orações, e muito lisonjeando lhe agradeci.

Logo fui embora, prometendo que voltaria tão breve pudesse para revê-la.

Voltei caminhando para o hotel pelas mesmas ruas que me levaram a casa e a minha vizinha, sob a noite que agora se fazia presente, tomando os últimos raios de sol da cidade.

Tudo parecia um sonho, e eu apenas caminhava.

As árvores estavam todas em flor.


Continua

Trilha sonora:



Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Quem procura...