domingo, fevereiro 07, 2010

Diários de São Paulo




Olho pela janela do hotel e vejo as luzes da cidade que nunca dorme, o quarto escuro e somente a luz do computador a iluminar a pequena mesa, que sustenta minhas palavras e a pequena xícara vazia de café expresso.
Antes de dormir ela pede para que não passe a madrugada inteira no computador, então logo em seguida pega no sono, como uma criança, a esquentar nossos lençóis. Recapitulo cada passo do dia, desde a chegada de uma viagem cheia de turbulência e raios às poucas horas dormidas e o caminhar pela cidade.
Dos muitos bairros, que me lembravam Porto Alegre, via a colcha de retalhos que lembrava a capa do livro de Mário de Andrade, disforme de timbres, cores, tamanhos, dos metrôs lotados, de cada peça de uma falange que me escapa o significado. Lá estava o meu eu, lírico e satírico, que caminhava por entre os transeuntes da estação da luz, do museu da língua portuguesa e se encontrava comigo em meio à exposição dedicada a Cora Coralina.
Recordava das histórias de minha mãe jovem que viajava pelo país inteiro e suas divisas, como se para mim, menino, fosse ela um Odisseu. Recordava toda uma história mítica de mim, como se as lembranças dos lugares que nunca fui se misturassem as minhas próprias lembranças pré-históricas de poucos anos, como passar pelo MASP, ver esculturas de Abelardo da Hora e não lembrar de meu pai e seus seminários caseiros sobre a importância da cultura ou ao comer numa cantina no Bexiga ou qualquer outro local boêmio com histórias antigas.
Às vezes consigo viajar para mais longe do que meu corpo pode acompanhar. A avenida paulista hoje me parece interminável, mas já não caminho sozinho a um bom tempo, e já não me importo de tê-lo de percorrer. De mãos dadas o caminho sempre acaba sendo mais curto.
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