O mormaço traz o lapso. O calor cuida de encobrir as defesas daquilo que custa a sair de nós. Escrevo um nome errado, troco palavras por outras que desconheço que quero usar.
A tarde ocre cobre a casa de preguiça e saudade. Uma vontade de dormir.
Corro contra o tempo, como
um atleta que bebe xícaras e mais xícaras de café durante uma maratona.
Tênis allstar para um velho, enorme e desajeitado trabalhador que não
para de correr. Enfim que termino por chegar aonde comecei. Como um eterno
retorno de poucos anos. Acabo por retornar diferente à olhar onde comecei a
mais de 4 anos atrás.
O mesmo tênis, alguns
quilos a mais, alguns brincos a menos. Cansado. Com medo de recomeçar, com medo
de continuar onde se está. Voltar a voltar na contramão dos que acordam cedo
para o trabalho, sozinho e com sono ao raiar o dia.
Respiro fundo como
estivesse a pular no fundo do rio. Ajeito os óculos embaçados pelas marcas dos
meus dedos. Decido que quero correr por outros caminhos, fracassar por tentar e
não a minha revelia, como se escrever fosse um ato dos dedos, involuntariamente
ao desejo de quem escreve, independente de que saiba o que deseja ou o que quer
que seja que desconheça ao escrever.
Cadarços bem atados, a sola
do allstar descolando- tudo bem.
Vamos ver até onde ele aguenta a próxima corrida.
Rabisco folhas de caderno na cama. Na cabeceira diversos livros empilhados prontos pra cair sobre minha cabeça. Dos que estou lendo, um de história da psicanálise, um de Saramago e um de Bettelheim.
Penso na faxina de domingo que fiz. Domingo de chuva e sol. Domingo de falta d'água. Domingo sozinho comigo mesmo.
Escuto uma música do Jeneci "[...] quando um não quer, os dois não fazem tempestade em copo d'água [...]"
Arrumo a casa como se arrumasse a mim mesmo. Me pondo em ordem.
Bermuda, pés descalços, uma xícara de café e a sensação de dever cumprido.