quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Us & Them

Na minha trilha de jovem adulto recém formado em busca de emprego, especialização ou qualquer coisa que o valha, voltei a velha universidade federal, bela em sua decadência, com alunos excêntricos em suas roupas e leituras...
Caminhando pelo imenso campus verde e quente, em uma tarde igualmente quente de ar seco, lendo um panfleto com as disciplinas da grade de mestrado que pretendo cursar como aluno ouvinte até a seleção, eu me lembrava de épocas remotas, de minha pré-história...
Me lembrei de quando o mundo era apenas composto por gases e calor, me lembrei de surgir inorgânico ainda, antes da vida, antes da matéria que se configurava em carne que se corta, que chora, que defeca o inorgânico. Me lembrei também de sair da água e respirar pela primeira vez com pulmões...
Antes das tecnologias frias com as quais escrevo e publico isso, me recordei das tecnologias que surgiam para dar suporte ao meu corpo, um corpo orgânico que troca gazes, queima, alimenta, que quebra moléculas, que sorri as vezes... a química dos sorrisos sempre foi complicada pra mim, assim como a batalha das palavras em busca de sentido nessa entropia que se chama vida.
Leio para me complicar mais, e escrevo só pra depois ver que tornei as coisas mais turvas. Escrevo repetidas vezes sem sentido, pra tentar chegar sempre ao núcleo da coisa, mas o máximo que consigo é contorná-la, bem avia me avisado Clarisse. Na verdade circundo o que quero dizer porque tenho medo, mas não um medo medo, mas um medo meio medo. Sobre a metafísica do medo poderia escrever um tratado, principalmente sobre os diferentes tipos de medos e sintomatologias, suas cores e sabores. Meu medo é acre e levemente ferroso, e tem cor de sorvete de peixe com telefone.
Agora sinto um quente e gostoso em meu peito, um calor tão gostoso quanto estar apaixonado, tão gostoso quanto o leve travar da garganta que precede o choro silencioso. Estou sempre em mudanças, agora já não sinto mais o calor do peito e sim o gelado de meus dedos ao pressionar as teclas do computador da faculdade, em meio a outras pessoas que ignoram o que escrevo, e que visualizam as telas mal iluminadas dos monitores, cada um em órbita de seu próprio universo de problemas, amores ou alienações. Quem sabe?
Eu sei que agora estou escutando Pink Floyd no disckman que meu irmão me emprestou, sentindo um arrepio me correr a espinha ao escutar a melodia de The Great Gig in the Sky. Eu sei que estou cansado, e sei que apenas comecei a ter dias de verdade.
Só não sei como terminar de escrever, e de repente não sei como vim parar nessa pergunta, pois sempre se termina de escrever chegando ao ponto em questão, ou fugindo dele, ou deixando ele implícito para que se deduza, ou raramente quando morremos e deixamos por escrever. Eu não acho muito polido terminar se questionando porque e como se terminar algo que de repente perdeu o sentido de ser. De repente é como eu estivesse falando sobre a vida, e esta só termina quando tem de terminar, não se sabe quando isso acontecerá, essa é a vantagem, mas com textos é diferente, há porque começar e porque terminar, e momentaneamente tenho medo de não parar mais de escrever, prolongando o temido e desejado ponto final com vírgulas e reticências.
Não há porque de escrever, não há porque de ser, apenas há. E há esse texto que já não é mais meu, nem seu, não á mais nós e eles, não há mais privado, só público.
Vou voltar pra casa e preparar minha comida com meu chapéu de cozinheiro, deixando emoções em fogo brando, pois é o fogo que alimenta as emoções, mais tarde fumar um único cigarro e esquecer que parei por quase uma hora, ouvido repetidas vezes o dark side of the moon, enquanto tentava escrever sobre... sobre o quê?
Acho que sobre algo entre nós, nós que não somos eu e você, nem eles. Penso que talvez, como os mais piegas costumam usar como mote único para si, fale de amor. Amor que não passa de uma das bordas que recobrem o núcleo da coisa.
Vou procurar sorrir mais.

Trilha Sonora (sim a partir de hoje voltou, e agora com som de verdade):
Pink Floyd: The Great Gig in the Sky

Um comentário:

Renatinha disse...

Acho q vc fumou alguma coisa, aproveitando a atmosfera do CAC. =D. Mas me fez viajar junto contigo...acho q não cheguei ao núcleo da coisa, mas aposto todas as minhas fichas no procurar, no simplesmente buscar, no persistir. Ao contrário de ti, meu caro, eu me importo com os porquês. Não consigo me conformar em as coisas serem por serem. e só. Creio que há sempre algo que motive, mesmo q a gente não entenda muito bem e tente escrever sobre e tema não conseguir acabar mais...mas que mal há nisso, não é mesmo? Havendo ou não sentido, espero q sim, vc sorria mais, pois essas paisagens inspiradoras também precisam se inspirar em sorrisos doces como o teu. Xero

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