terça-feira, setembro 13, 2016

O perdedor



Era um perdedor nato. Era fato. Inquestionável.
Perdera-se uma vez no seu próprio bairro assim que mudara de cidade. Ainda hoje motivo de boas risadas com antigos amigos do colégio.
Perdera amigos, entes queridos, para sempre. 
Trabalhava ajudando gente perdida a se encontrar, a lembrarem-se de si. Ele que também era dado às desatenções e ao esquecimento, ajudava a guiar desconhecidos por lugares que nenhum dos dois conhecia.
Guardava um orgulho secreto, uma quase soberba, uma vaidade alimentada pelos que o amavam e o queriam bem. Achava-se inteligente. 
O era, mas não tanto.
Porque não sabia perder. Porque perdia o sabor de tentar novamente. Porque não era inteligente o bastante pra saber que o que é importante não se perde, se agrega.
O grande perdedor.
Aquele que ainda levaria anos para perder o medo de perder, para permitir perder-se.

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