quinta-feira, janeiro 26, 2017

Barcos de papel


O sol se pôs à duas horas. Fumo um cigarro e vejo a fumaça dançar no escuro da varanda.
Lembrei do meu pai, da minha mãe. Não os vejo faz tempo.
Desde que fui para o mar não tive mais notícias. Aprendi a beber cedo. Cedo aprendi que há formas diferentes de se afogar em terra.
De corpo fechado enfrentei as ondas, tubarões e o canto das sereias. Da água salgada que salpica o corpo já escuro, a pele que o sal do mar esfola e coça.
O sol vai embora e o vento noturo traz o cheiro forte do sargaço e da decomposição marítima que é vida também.
Lembrei dos barcos de papel a correrem rua abaixo nos dias de chuva quando criança. Nas mãos ásperas de papai a delicadeza da dobradura simples do barco, como se pelas suas mãos fosse eu também a ser dobrado. Os barcos levados pra longe pela chuva, nunca retornaram.
Eu também nunca retornei.

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