quinta-feira, abril 03, 2008

Em Busca do Tempo Perdido




























Capítulo 5 – Família. A volta pra casa. Fim.

Meus últimos dias na ilha passei com tios e primos que a certo tempo não via. Esses poucos dias foram dias de festa. Festa não só pela comida e bebida, mas também pela sensação de euforia que tomava conta de nós a cada momento.
Euforia silenciosa.
Euforia silenciosa de ver as novas gerações brincado, a geração que estão na iminência de chegar, e rir com elas, desejá-las futuros melhores, vidas melhores.
A ilha de certa forma se transformara em mim. Eu que temia (o que, eu temia?), encontrei um lugar entre a realidade as lembranças...
Mesmo estando lá, tinha sensações de momentos muito antigos, o cheiro me despertava, o calor me lembrava... Fiz questão de percorrer solitário o caminho que dava na antiga casa de meu avô, só para me lembrar das ruas, para passar na frente de sua casa e me lembrar de que éramos muito mais, mais que meras pessoas juntas, uma família.
Minha angústia se traduzia por uma leve falta de ar, de tanto ar que eu agora inspirava.
Essa falta de ar me foi companheira na viagem de volta a cidade velha. As chuvas eram menos torrenciais... a noite se mostrava mais branda.
A ilha ainda estava na minha cabeça nos poucos dias que se seguiram a volta. Então pensei em escrever sobre a ilha, pensei no título a partir de Proust e comecei a escrever. Escrevi sobre os acontecimentos da ilha em torno de cinco pequenos capítulos, finalizando ao contar sobre como decidi escrever esse texto a partir de uma viagem a minha ilha natal, e agora vejo a mim mesmo de frente a tela do computador, escrevendo sobre meu ato de escrever em uma espiral sem fim.
Sem fim todas as histórias são, e de infinitos capítulos a nossa vida é. Agora talvez compreenda porque Clarisse Lispector não usava capítulos e porque de vez em quando me via perdido em meio as suas páginas.
Hoje me perco e me encontro dentro de minhas próprias páginas... mas para esse relato tem que haver um fim.
Este ano o outono chegou para mim, e dele guardo as suas tardes quentes de ruas cobertas de folhas secas e de árvores em flor, como só um outono tropical pode me dar.

Fim

2 comentários:

Stranger in the world disse...

...

como algo que nao se teve consciencia pode fazer tanto sentido quando se acha que se adquiriu esta?


...

nao sei de quantos capitulos, titulos, paginas, se faz a minha vida, nem sei se da pra sequenciar esta!!!

e incrivel como se faz do fim um comeco...nunca consegui fazer do comeco um fim, porque eu sempre carreguei comigo tudo da edicao passada, por mais lapsos que se possa ter, eles sempre voltam!

everybody hurts...

quantas estacoes podem haver ao mesmo tempo,chuva, sol, sombra, agua fresca e um vazio dentro de si que nada ocupa!

Renatinha disse...

Nossa, querido, que nostalgia gostosa de compartilhar essa tua. O que se percebe, ao primeiro momento, como o confronto medonho com o passado, torna-se, de repente, o laço de mãos com o que há de verdade de si em si mesmo. Feliz daquele que encara, in loco, o passado; que tira os lençóis dos pseudofantasmas; que pisa descalço nas folhas secas no chão real dos sonhos obscuros. Feliz por ti, pelo outono aconchegante que chega pra fazer do inverno uma mera ponte pra primavera. =*

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