sábado, maio 17, 2008

Trocadilhos

Mentiroso. Foi sua última sentença.
Dito por si mesmo, a muito tempo, não parecia algo que devesse ser levado em conta.
As contas. Nunca pararam de chegar, nem o acerto de contas parecia algo do qual pudesse escapar. Queria um emprego de carteiro e pensava que seria melhor carregar as contas dos outros em sua bolsa, não só as contas, mas as boas novas e as notícias esperadas, que antigamente costumava chegar aos montes, antes da explosão dos meios de comunicação.
A comunicação era pouca, principalmente consigo mesmo. As vezes acreditava manter mais contato com os ventos frios que precediam as chuvas de maio do que consigo. Por isso escrevia.
Escrever para ele era mais do que o exercício de criar coisas para além de suas perdas, era uma das poucas oportunidades de conversar consigo de forma mais amena.
As chuvas não amenizavam nesses últimos dias, e costumava ver as reportages sobre os alagamentos e os assassinatos diários.
Já perdia as contas dos assassinatos que cometera, principalmente contra a língua portuguesa. Sua lingua ardia levemente por causa do cigarro de cravo que insistia em tragar todas as manhãs em que acordava preocupado.As vezes a fumaça azulada do cigarro dava a impressão que era ele que se desfazia em fumaça.
Com os chinelos de couro de seu irmão mais novo, percorria corredores de gente estranha. Estranho ele se sentia. Estranho a ele tudo se mostrava.
E incerto era seu futuro.

Trilha Sonora:


Um comentário:

Renatinha disse...

"O que sinto a respeito dos homens é estranho...". =*

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