domingo, maio 19, 2013

A legião Estrangeira – Ensaio




“O pinto, esse piava. Sobre a mesa envernizada ele não ousava um passo, um movimento, ele piava pra dentro. Eu não sabia como cabia tanto terror numa coisa que era só penas. [...] Era impossível dar-lhe a palavra asseguradora que o fizesse não ter medo, consolar coisa que por ter nascido se espanta. [...] ”

“[...] Mas era amar o nosso amor querer que o pinto fosse feliz somente porque o amávamos. Eu sabia também que só mãe resolve o nascimento, e o nosso amor era de quem se compraz em amar: eu me revolvia na graça de me ser dado amar, sinos, sinos repicavam porque sei adorar. Mas o pinto tremia, coisa de terror, não de beleza.
O menino menor não suportou mais:
- Você quer ser a mãe dele?
Eu disse que sim, em sobressalto.”


(Lispector, Clarice in: A Legião Estrangeira. Ed. ROCCO, p. 97)

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